- Quanto quer você pelas cartas, sua ladra? - disse Luísa, erguendo-se . direita, diante dela.
Juliana ficou um momento interdita.
- A senhora ou me dá seiscentos mil réis, ou eu não largo os papéis! - respondeu, empertigando-se.
- Seiscentos mil réis! Onde quer você que eu vá buscar seiscentos mil réis?
- Ao inferno! - gritou Juliana. - Ou me dá seiscentos mil réis, ou tão certo como eu estar aqui, o seu marido há de ler as cartas!
Luísa deixou-se cair numa cadeira, aniquilada.
- Que fiz eu para isto, meu Deus? Que fiz para isto?
Juliana plantou-se-lhe diante, muito insolente.
- A senhora diz bem, sou uma ladra, é verdade; apanhei a carta no cisco; tirei as outras do gavetão. É verdade! E foi para isto, para mas pagarem! - E traçando, destraçando o xale, numa excitação frenética: - Não que a minha vez havia de chegar! Tenho sofrido muito, estou farta! Vá buscar o dinheiro onde quiser. Nem cinco réis de menos! Tenho passado anos e anos a ralar-me! Para ganhar meia moeda por mês, estafo-me a trabalhar, de madrugada até à noite, enquanto a senhora está de pânria! É que eu levanto-me às seis horas da manhã - e é logo engraxar, varrer, arrumar, labutar, e a senhora está muito regalada em vale de lençóis, sem cuidados, nem canseiras. Há um mês que me ergo com o dia, para meter em goma, passar,