O Primo Basílio - Cap. 8: CAPÍTULO VIII Pág. 241 / 414

Mas o meu dinheiro para aqui! E também lhe digo, que morta seja eu neste instante com um raio, se depois de eu receber o meu dinheiro esta boca se torna a abrir! - E deu uma palmada na boca.

Luísa erguera-se devagar, muito branca:

- Pois bem - disse, quase num murmúrio - eu lhe arranjarei o dinheiro. Espere uns dias.

Fez-se um silêncio - que depois do ruído parecia muito profundo; e tudo no quarto como que se tornara mais imóvel. Apenas o relógio batia o seu tique-taque, e duas velas sobre o toucador consumindo-se davam uma luz avermelhada, e direita.

Juliana tomou a sombrinha, traçou o xale, e depois de fitar Luísa um momento:

- Bem, minha senhora - disse, muito seca.

Voltou as costas, saiu.

Luísa sentiu-a bater a cancela com força.

- Que expiação, Santo Deus! - exclamou, caindo numa cadeira, banhada de novo em lágrimas.

Eram quase dez horas quando Joana voltou.

- Não pude saber nada, minha senhora; na inculcadeira ninguém sabe dela.

- Bem, traga a lamparina.

E Joana ao despir-se no seu quarto, rosnava consigo:

- A mulher tem arranjo; está metida por aí com algum súcio!

Que noite para Luísa! A cada momento acordava num sobressalto, abria os olhos na penumbra do quarto, e caía-lhe logo na alma, como uma punhalada, aquele cuidado pungente: que havia de fazer? Como havia de arranjar dinheiro? Seiscentos mil réis! As suas jóias valiam talvez duzentos mil réis. Mas depois, que diria Jorge? Tinha as pratas... Mas era o mesmo!

A noite estava quente, e na sua inquietação a roupa escorregara; apenas lhe restava o lençol sobre o corpo. As vezes a fadiga readormecia-a de um sono superficial, cortados de sonhos muito vivos. Via montões de libras reluzirem vagamente, maços de notas agitarem-se brandamente no ar.





Os capítulos deste livro