O Primo Basílio - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 270 / 414

nos braços de Basílio que a enlaçavam, a queimavam; toda desfalecida, sentia-se perder, fundir-se num elemento quente como o sol e doce como o mel; gozava prodigiosamente; mas, por entre os seus soluços, sentia-se envergonhada, porque Basílio repetia no palco, sem pudor, os delírios libertinos do Paraíso! Como consentia ela?

O teatro, numa aclamação imensa bradava: "Bravo! Bis! Bis!" Lenços aos milhares esvoaçavam como borboletas brancas num campo de trevo; os braços nus das mulheres lançavam com um gesto ondeado ramos de violetas dobradas; o rei erguera-se espectralmente, e, triste, arremessou como um buquê a sua esfera armilar; e o Conselheiro logo, num frenesi, para seguir os exemplos de Sua Majestade, desaparafusando rapidamente a calva, atirou-lha, com um berro de dor e de glória! O contra-regra gania: - "Agradeçam! Agradeçam!" Ela curvava-se: os seus cabelos de Madalena rojavam pelo tablado; e Basílio, a seu lado, seguia com olhos vivos os charutos que lhe atiravam, apanhando-os com a graça de um toureiro e a destreza de um clown!

Subitamente, porém, todo o teatro teve um "ah!" de espanto. Fez-se um silêncio ansioso e trágico; e todos os olhos, milhares de olhos atônitos se fitavam nó pano de fundo, onde um caramanchão arqueava a sua estrutura toda estrelada de rosinhas brancas. Ela voltou-se também como magnetizada, e viu Jorge, Jorge que se adiantava, vestido de luto, de luvas pretas, com um punhal na mão; e a lâmina reluzia - menos que os olhos dele! Aproximou-se da rampa e curvando-se, disse com uma voz graciosa:

- Real Majestade, senhor infante, senhor governador civil, minhas senhoras, e meus senhores - agora é comigo! Reparem neste trabalhinho!

Caminhou então para ela com passos marmóreos que faziam





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