O Primo Basílio - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 271 / 414

oscilar o tablado; agarrou-lhe os cabelos, como um molho de erva que se quer arrancar; Curvou-lhe a cabeça para trás; ergueu de um modo clássico o punhal; fez a pontaria ao seio esquerdo; e balançando o corpo, piscando o olho, cravou-lhe o ferro!

- Muito bonito! - disse uma voz. - Rico trabalho!

Era Basílio que fizera entrar nobremente na platéia o seu faéton! Direito na almofada, com o chapéu ao lado, uma rosa na sobrecasaca, continha com a mão negligente a inquietação soberba dos seus cavalos ingleses; e ao seu lado, sentado como um trintanário coberto das suas vestes sacerdotais, vinha o patriarca de Jerusalém! - Mas Jorge arrancara o punhal todo escarlate; as gotas de sangue corriam até a ponta, coalhavam; caíam depois com um som cristalino, punham-se a rolar pelo tablado como continhas de vidro vermelho. Ela deitara-se, expirante, sob o carvalho que se parecia com Sebastião; então, como a terra era dura, a árvore estendeu por baixo dela as suas raízes, macias como coxins de penas; como o sol a mordia, a árvore desdobrou sobre ela as suas ramagens, como os panos de uma tenda; e das folhas deixava-lhe escorrer sobre os lábios gotas de vinho da Madeira! Ela via no entanto com terror o seu sangue sair da ferida, vermelho e forte, correr, alastrar-se, fazendo poças aqui, ribeirinhos tortuosos além. E ouvia a platéia berrar:

- O autor! Fora o autor!

Ernestinho, muito frisado, pálido, apareceu; agradecia soluçando; e, às cortesias, saltava aqui, acolá - para não sujar no sangue da prima Luísa os seus sapatinhos de verniz...

Sentiu que ia morrer! Uma voz disse vagamente: - Olá, como vai isso? - Parecia-lhe de Jorge. De onde vinha? Do céu? Da platéia? Do corredor? Um ruído forte, como de uma mala que se deixa cair, acordou-a.





Os capítulos deste livro