- Porque enfim, Conselheiro, a natureza é a natureza... - disse Julião com malícia.
- Há muito, meu amigo, que se apagou dentro em mim o fogo das paixões.
Ora qual! Era um fogo que nunca se extinguia! Que diabo! Era impossível que o Conselheiro, apesar dos seus cinquenta e cinco, fosse indiferente a uns belos olhos pretos, a umas formazinhas redondas!...
O Conselheiro corava. E o Saavedra declarou, com um circunlóquio pudico - que nenhuma idade se eximia à influência de Vénus. Toda a questão é nos gostos - disse -, aos quinze anos gosta-se de uma matrona cheia, aos cinquenta de um frutozinho tenro... Pois não é verdade, amigo Alves?
O Alves arregalou os olhos concupiscentes, e fez estalar a língua.
E o Saavedra continuou:
- Eu, a minha primeira paixão foi uma vizinha; mulher de um capitão de navios, mãe de seis filhos, e que não cabia por aquela porta. Pois senhores, fiz-lhe versos, e a excelente criatura ensinou-me um par de coisas agradáveis... Deve-se começar cedo, não é verdade? - E voltou-se para Sebastião.
Quiseram então saber as opiniões de Sebastião - que se fez escarlate.
Por fim, muito solicitado, disse com timidez:
- Eu acho que se deve casar com uma rapariga de bem, e estimá-la toda a vida...
Aquelas palavras simples produziram um curto silêncio. Mas o Saavedra, reclinando-se, classificou uma tal opinião de burguesa; o casamento era um fardo; não havia nada como a variedade...
E Julião expôs dogmaticamente:
- O casamento é uma fórmula administrativa, que há de um dia acabar...
- De resto, segundo ele, a fêmea era um ente subalterno; o homem deveria aproximar-se dela em certas épocas do ano (como fazem os animais, que compreendem estas coisas melhor que nós), fecundá-la, e afastar-se com tédio.