- Mas também que pergunta tão tola! Como se lhe há de pagar?... Tu não sabes?
Olharam-se um momento.
- Não, eu vou-me embora, Leopoldina! - exclamou Luísa.
- Não sejas criança!
Um trem parou na rua. A Justina apareceu. Não encontrara o Sr. Castro em casa, estava no escritório. Fora lá, disse que vinha imediatamente.
Mas Luísa, muito pálida, tinha o chapéu na mão.
- Não - disse Leopoldina quase escandalizada -, tu agora não me deixas aqui com o homem! Que lhe hei de eu dizer?
- É horrível! - murmurou Luísa com uma lágrima nas pálpebras, deixando cair os braços, solicitada pelo interesse, enleada pela vergonha, muito infeliz!
- É como quem toma óleo de rícino! - disse a outra com um gesto cínico. E acrescentou, vendo o horror de Luísa: - Que diabo! Onde é que está a desonra, em pedir dinheiro emprestado? Todo o mundo pede...
Naquele momento outra carruagem, a largo trote, parou.
- Entra tu primeiro! Fala-lhe tu primeiro! - suplicou Luísa, erguendo as mãos para ela.
A campainha retiniu. Luísa, muito trémula, muito branca, olhava para todos os lados com um olhar muito aberto, de susto, de ânsia, como procurando uma idéia, uma resolução ou um recanto para se esconder. Botas de homem rangeram na esteira da sala ao lado. Leopoldina então disse-lhe baixo, devagar, como para lhe cravar as palavras na alma, uma a uma.
- Lembra-te que daqui a uma hora podes estar salva, com as tuas cartas na algibeira, feliz, livre!
Luísa pôs-se de pé com uma decisão brusca. Foi pôr pó-de-arroz, alisou o cabelo - e entraram na sala.
Ao ver Luísa, o Castro teve um movimento surpreendido. Curvou-se, com os pés pequeninos muito juntos, inclinando a cabeça grossa, onde os cabelos muito finos alourados já rareavam.