Sobre o seu ventrezinho redondo, que a perna curta fazia parecer quase pançudo, o medalhão do relógio pousava com opulência. Trazia na mão um chicote, cujo cabo de prata representava uma Vénus retorcendo os braços. A pele tinha um rubor próspero; o bigode farto terminava em pontas agudas, empastadas em cera mostacha, de um aspecto napoleônico. E os seus óculos de ouro tinham um ar autoritário, bancário, amigo da Ordem. Parecia contente da vida como um pardal muito farto.
Com quê! Era necessário mandá-lo chamar para que se pusesse a vista em cima - começou logo Leopoldina. E depois de o apresentar a Luísa, "sua intima, sua amiga de colégio":
- Que tem feito, por que não tem aparecido?
O Castro repoltreou-se numa cadeira de braços, e batendo com o chicote nas botas, desculpou-se com os preparativos da partida...
- Sempre é verdade? Deixa-nos?
O Castro curvou-se:
- Além de amanhã. No Orenoque.
- Então desta vez os jornais não mentiram. E com demora?
- Per omnia saecula saeculorum.
Leopoldina pasmava. Deixar Lisboa! Um homem tão estimado, que se podia divertir tanto! - Pois não é verdade? - disse voltando-se para Luísa, para a tirar do seu silêncio embaraçado.
- Com certeza - murmurou ela.
Estava sentada à beira da cadeira, como assustada, pronta a fugir. E os olhares do Castro, insistentes por trás do reflexo dos óculos, incomodavam-na.
Leopoldina reclinara-se no sofá, e ameaçando-o com o dedo erguido:
- Ah! Aí nessa ida para França anda história de saias!
Ele negou frouxamente, com um sorriso fátuo.
Mas Leopoldina não achava as francesas bonitas - o que era é que tinham muito chique, muita animação...
O Castro declarou-as adoráveis. Sobretudo para a estroinice! Ah! Conhecia-as bem! Enfim, lá como mães de família não dizia.