Quando Joana trouxe o almoço daí a pouco Jorge veio sentar-se à mesa, torcendo muito nervosamente o bigode. Levantou-se duas vezes com um sorriso mudo para ir buscar uma colher, o açucareiro. Luísa via-lhe os músculos da face contraídos: mal podia comer, atarantada; a chávena, quando a erguia, tremia-lhe mão; com os olhos baixos espreitava Jorge às furtadelas, e o seu silêncio torturava-a.
- Tu falaste ontem que ias jantar fora hoje...
- Vou - disse secamente. E acrescentou: - Graças a Deus!
- Estás de bom humor!... - murmurou ela.
- Como vês!
Luísa fez-se pálida, pousou o talher; tomou o jornal para disfarçar uma lagrimazinha que lhe tremia na pálpebra; mas as letras confundiam-se, sentia pular o coração. De repente a campainha tocou. Era a outra, decerto!
Jorge, que se ia erguer, disse logo:
- Há de ser essa senhora. Ora, vou-lhe dizer duas palavras...
E ficou de pé, junto à mesa, aguçando devagar um palito.
Luísa, a tremer, levantou-se também:
- Eu vou-lhe falar...
Jorge reteve-a pelo braço, e tranquilamente:
- Não, deixa-a vir. Deixa-me gozar!...
Luísa recaiu na cadeira, muito pálida.
Os tacões de Juliana soaram no corredor. Jorge aguçava tranquilamente o seu palito.
Luísa então voltou-se para ele, e batendo as mãos, aflita:
- Não lhe digas nada!...
Ele fixou-a, assombrado:
- Por quê?
Juliana neste momento abriu o reposteiro.
- Então que desaforo é este, sair e deixar tudo por arrumar? - disse-lhe Luísa logo, erguendo-se.
Juliana, que vinha sorrindo, estacou à porta, petrificada: apesar de sua amarelidão, uma vaga cor de sangue espalhou-se nas feições.
- Não lhe torne acontecer semelhante coisa, ouviu? A sua obrigação é estar em casa pela manhã.