O Primo Basílio - Cap. 12: CAPÍTULO XII Pág. 333 / 414

.. - Mas o olhar de Juliana, que se cravava nela terrivelmente, emudeceu-a. Agarrou no bule com as mãos trémulas. - Deite água neste bule, vá!

Juliana não se mexeu.

- Você não ouviu? - berrou de repente Jorge. E atirou uma punhada à mesa, que fez saltar a louça.

- Jorge! - gritou Luísa, agarrando-lhe no braço.

Mas Juliana fugira da sala, correndo.

- E logo na rua! - exclamou Jorge. - Faze-lhe as contas e que se vá. Ah! Estou farto! Nem mais um dia! Se a tomo a ver, desfaço-a! Até que enfim! Chegou-me a minha vez!

Foi buscar o paletó, muito excitado, e antes de sair, voltando à sala:

- E que se vá hoje mesmo, ouviste? Nem uma hora a mais! Há quinze dias que a trago aqui atravessada. Para a rua!

Luísa veio para o quarto quase sem se poder suster. Estava perdida! Estava perdida! Uma multidão de idéias, todas extremas e insensatas, redemoinhava no seu cérebro como um montão de folhas secas numa ventania: queria fugir, atirar-se ao rio, de noite; arrependia-se de não ter cedido ao Castro... De repente imaginou Jorge abrindo as cartas que Juliana lhe entregava, lendo: "Meu adorado Basílio!" Então uma cobardia imensa, amoleceu-lhe a alma. Correu ao quarto de Juliana, ia suplicar-lhe que lhe perdoasse, que ficasse, que a martirizasse!... E depois? Diria que a Juliana chorara, se atirara de joelhos! Mentiria, cobri-lo-ia de beijos... Era nova, era bonita, era ardente - convencê-lo-ia!

Juliana não estava no quarto. Subiu à cozinha; estava lá, sentada, com os olhos chamejantes, os braços nervosamente cruzados, numa raiva muda. Apenas viu Luísa, deu um salto sobre os calhares, e mostrando-lhe o punho, berrou:

- Olhe que a primeira vez que você me torne a falar como hoje, vai aqui tudo raso nesta casa!

- Cale-se, sua infame! - gritou Luísa.





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