O Primo Basílio - Cap. 12: CAPÍTULO XII Pág. 335 / 414

Não valia a pena lutar por uma vida tão vil. O convento seria já uma purificação, a morte uma purificação maior... - E onde estava ele, o homem que a desgraçara? Em Paris, retorcendo a guia dos bigodes, chalaceando, governando os seus cavalos, dormindo com outras! E ela morreria ali, estupidamente! E quando lhe escrevera a pedir-lhe que a salvasse, nem uma palavra de resposta; nem a julgara digna do meio tostão da estampilha! O que ele lhe dizia pelas terras da Pólvora acima, naquela cupê: - Dar-lhe-ia toda a sua vida, viveria à sombra das suas saias! O infame! Já tinha talvez no bolso o bilhete da passagem! Enquanto ela fora a mulher alegre, que vem, despe o corpete, mostra um lindo colo - então bem, pronto! Mas teve uma dificuldade, chorou, sofreu - ah! não, isso não! "És um belo animal que me dás um grande prazer - perfeitamente, tudo o que quiseres; mas tornas-te uma criatura dolorida que precisa consolações, talvez uns poucos de centos de mil réis - então boas noites, cá vou no paquete!" Oh, que estúpida que é a vida! Ainda bem que a deixava!

Foi-se encostar à janela. Estava um dia muito azul, muito doce. O sol punha grandes claridades de um dourado ligeiro sobre as paredes brancas, sobre a calçada. E havia no ar uma suavidade aveludada. O Paula, em chinelas de tapete, aquecia-se à porta do estanque. Então, diante do lindo ar de inverno, enterneceu-se. Todos eram felizes naquela manhã de rosas, só ela sofria, pobre dela! E ficou a olhar, como esquecida numa vaga saudade, com uma lágrima na pálpebra... De repente viu Juliana atravessar a rua, dobrar a esquina - e daí a pouco voltar com um galego, velho e pesado, que trazia o seu saco ao ombro.

Ia-se embora! - pensou Luísa. - Mandava por fora os baús! E depois? Remetia as cartas a Jorge, ou entregava-lhas ela mesma, no portal! Santo Deus! - E parecia-lhe ver Jorge aparecer no quarto, lívido, com as cartas na mão!.





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