Veio-lhe um terror alucinado: não queria perder o seu marido, o seu Jorge, o seu amor, a sua casa, o seu homem! Apossou-se dela a revolta da fêmea contra a viuvez; aos vinte e cinco anos ir murchar para um convento! Não, com os diabos!
Foi direita ao quarto de Juliana.
- Vem ver se lhe levo alguma coisa? - gritou logo a outra, furiosa.
Sobre a cama estava roupa branca espalhada, pelo chão botinas embrulhadas em jornais velhos.
- E ainda cá me ficam quatro camisas, dois pares de calcinhas, três pares de meias, seis punhos na lavadeira. Fica aí o rol. E quero as minhas contas!...
- Escute, Juliana, não se vá. - Mas a voz desapareceu-lhe, as lágrimas saltaram-lhe dos olhos.
Juliana pôs-se a olhar para ela do alto, triunfando, com uma botina de duraque em cada mão.
- É mandar aquela desavergonhada embora, e está tudo acabado! - E com uma voz aguda, batendo as solas das botinas: - Fica tudo como dantes, na paz do Senhor!
Uma alegria extraordinária acendia-lhe o olhar. Vingava-se!
Fazia-a chorar! Expulsava a outra! E não perdia os seus cômodos!
- É pôr a bêbeda na rua! É pô-la na rua!
Luísa curvou os ombros, foi à cozinha devagar; os degraus da escada pareciam-lhe imensos, infindáveis. Deixou-se cair num banco, e limpando os olhos:
- Joana, venha cá, escute, você não pode continuar na casa...
A rapariga ficou a olhar para ela, espantada.
- O que a Juliana disse foi num repente... Tem estado a chorar, a arrepender-se. É a criada mais antiga. O senhor estima-a muito...
- Então a senhora manda-me embora? Então a senhora manda-me embora?
Luísa insistiu, baixo, envergonhada:
- Foi um repente, tem estado a pedir perdão...
- Eu foi para defender a senhora! - exclamou a rapariga abrindo os braços aflita.