O Primo Basílio - Cap. 12: CAPÍTULO XII Pág. 337 / 414

Luísa sentiu-se indignada; e impaciente, para acabar:

- Bem, Joana, não estejamos com mais. Eu é que sou a dona da casa...

- Vou-lhe fazer as contas.

- Olha que pago este! - gritou Joana, então, desesperada. E com uma solução, batendo o pé: - Pois o senhor é que há de dizer! Eu vou dizer tudo ao senhor! Hei de lhe contar tudo o que se passou! A senhora não tem razão!...

Luísa olhava-a, estúpida. Agora era aquela! Era daquela rapariga, teimosa na sua justiça, que vinha o desastre! Era demais! Veio-lhe um terror, sobrenatural, como um espanto da consciência, e apertando as fontes nas mãos abertas:

- Que expiação! Que expiação, Santo Deus!

De repente, como desvairada, agarrou Joana pelos braços, e falando-lhe junto do rosto:

Joana, vá-se pelo amor de Deus, vá-se! Não diga nada! Despeça-se você! - E perdendo inteiramente todo o respeito próprio, caiu de joelhos, diante da cozinheira, soluçando: - Pelas cinco chagas de Cristo, vá, Joana, minha rica vá! Peço-lhe eu, Joana! Pelo amor de Deus!

A rapariga, assombrada, rompeu num choro estridente:

- Vou, sim, minha senhora!...Vou, sim, minha rica senhora!...

- Sim, Joana, sim. Eu dou-lhe alguma coisa. Você bem vê... Não chore... Espere...

Desceu ao quarto correndo, tirou da gaveta duas libras das suas economias, voltou, galgando os degraus, meteu-lhas na mão, dizendo-lhe baixo:

- Faça uma trouxa, eu amanhã lhe mandarei o baú.

- Sim, minha senhora, - soluçava a rapariga, babada de dor - sim, minha rica senhora!

Luísa veio deixar-se cair de bruços sobre a sua chaise longue, num choro convulsivo também, desejando a morte, pedindo, num terror, piedade a Deus!

Mas a voz áspera de Juliana disse bruscamente à porta:

- Então em que ficamos?

A Joana vai-se.





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