O Primo Basílio - Cap. 12: CAPÍTULO XII Pág. 341 / 414

Voltou a sentar-se ao pé dela, e tocando-lhe timidamente no braço, muito baixo:

- É necessário tirar-lhe as cartas...

- Mas como?

Sebastião coçava a barba, a testa.

- Há de se arranjar - disse, por fim.

Ela agarrou-lhe a mão:

- Oh, Sebastião, se fizesse isso!

- Há de se arranjar.

Esteve um momento calculando - e com o seu tom grave:

- Eu vou-me entender com ela... É necessário que ela esteja só em casa... Podiam ir ao teatro, esta noite.

Levantou-se lentamente, foi buscar o Jornal do Comércio sobre a mesa, olhou os anúncios:

- Podiam ir a São Carlos, que acaba mais tarde... É o Fausto... Podiam ir ver o Fausto...

- Podíamos ir ver o Fausto... - repetiu Luísa, suspirando.

E então, muito chegados, ao canto do sofá, Sebastião foi-lhe dizendo um plano, em palavras baixas, que ela devorava, ansiosa.

Devia escrever a D. Felicidade, para a acompanhar ao teatro... Mandar um recado a Jorge, prevenindo-o que o iriam buscar ao Hotel Gibraltar... E a Joana? A Joana deixara a casa. Bem. Às nove horas, então. Juliana estaria só.

- Vê como tudo se arranja? - disse ele, sorrindo.

Era verdade... Mas daria a mulher as cartas?

Sebastião tornou a coçar a barba, a testa:

- Há de dar - disse.

Luísa olhava-o quase com ternura: parecia-lhe ver, na sua face honesta, uma alta beleza moral. E de pé diante dele, com uma melancolia na voz:

- E vai fazer isso por mim, Sebastião, por mim, que fui tão má mulher...

Sebastião corou, respondeu encolhendo os ombros:

- Não há más mulheres, minha rica senhora, há maus homens, é o que há!

E acrescentou logo:

- Eu vou buscar o camarote. Uma boa frisa, hem?... Uma frisazinha ao pé do palco...

Sorria para a tranquilizar. Ela punha o chapéu, descia o véu com pequeninos soluços tristes, que voltavam a espaços.





Os capítulos deste livro