O Primo Basílio - Cap. 13: CAPÍTULO XIII Pág. 362 / 414

Ao sair examinou, admirado, o quarto:

- Estava mais bem alojada que eu, o estafermo!

Fechou a porta, deu a volta à chave:

- Requiescat in pace - disse.

E desceram, calados.

Ao entrar na sala, Sebastião, muito pálido, pôs a mão no ombro de Julião:

- Então achas que foi o aneurisma?

- Foi. Enfureceu-se, estourou. É dos livros...

- Se não se tivesse zangado hoje...

- Estourava amanhã. Estava nas últimas... Deixa em paz a criatura. Está começando a esta hora a apodrecer, não a perturbemos.

Declarou então, esfregando as mãos com frio, que comia alguma coisa. Achou no armário um pedaço de vitela fria, uma garrafa meia de Colares. Instalou-se e, com a boca cheia, deitando o vinho do alto:

- Então sabes a novidade, Sebastião?

- Não.

- O meu concorrente foi despachado!

Sebastião murmurou:

- Que ferro!

- Era previsto - disse Julião com um grande gesto. - Eu ia fazer um escândalo, mas... - e teve um risinho - amansaram-me! Estou num posto médico, deram-me um posto médico! Atiraram-me um osso!

- Sim? - fez Sebastião. - Homem, ainda bem, parabéns. E agora?

- Agora, roê-lo.

De resto, tinham-lhe prometido a primeira vagatura. O posto médico não mau... Em definitivo, a situação melhorara...

- Mas mesquinha, mesquinha! Não saio do atoleiro...

Estava farto de Medicina, disse depois de um silêncio. Era um beco sem saída. Devia-se ter feito advogado, político, intrigante. Tinha nascido para isso!

Ergueu-se, e com grandes passadas pela sala, o cigarro na mão, a voz cortante, expôs um plano de ambição: - O país está a preceito para um intrigante com vontade! Esta gente toda está velha, cheia de doenças, de catarros de bexiga, de antigas sífilis! Tudo isto está podre por dentro e por fora! O velho mundo constitucional vai a cair aos pedaços.





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