Julião apalpou-a, ergueu-se sacudindo as mãos, disse:
- Está morta com todas as regras. E necessário tirá-la daqui. Onde é o quarto?
Sebastião, pálido, fez sinal com o dedo que era por cima.
- Bem. Arrasta-a tu, que eu levo o candeeiro. - E como Sebastião não se movia: - Tens medo? - perguntou rindo.
Escarneceu-o: que diabo, era matéria inerte, era como quem agarrava uma boneca! Sebastião, com um suor à raiz dos cabelos, levantou o cadáver por debaixo dos braços, começou a arrastá-lo, devagar. Julião adiante erguia o candeeiro; e por fanfarronada cantou os primeiros compassos da marcha do Foosto. Mas Sebastião escandalizou-se, e com uma voz que tremia:
- Largo tudo, e vou-me...
- Respeitarei os nervos da menina! - disse Julião curvando-se.
Continuaram calados. Aquele corpo magro parecia a Sebastião de um peso de chumbo. Arquejava. Nas escadas uma das chinelas do cadáver soltou-se, rolou. E Sebastião sentia aterrado alguma coisa que lhe batia contra os joelhos; era a cuia caída, suspensa por um atilho.
Estenderam-na na cama; Julião, dizendo que se deviam seguir as tradições- pôs-lhe os braços em cruz e fechou-lhe os olhos.
Esteve um momento a olhá-la:
- Feia besta! - murmurou, estendendo-lhe sobre o rosto uma toalha enxovalhada.