- E serve-lhe? - acudiu Julião.
- Perfeitamente; um bocadinho larga...
O Conselheiro disse com autoridade:
- Os grandes autores, o famigerado Tasso, o nosso Camões são sempre representados com as suas respectivas coroas.
- É o que eu lhe aconselho, Sr. Ledesma - acudiu Julião, erguendo-se e batendo-lhe no ombro -, é que se faça retratar de coroa!...
Riram.
E Ernestinho, um pouco despeitado, desdobrando o seu lenço perfumado:
- O Sr. Zuzarte não dispensa o seu epigramazinho...
- É a prova da glória, meu amigo. Nos triunfos dos generais vitoriosos, em Roma, havia um bobo no préstito!
- Eu não sei! - disse Luísa muito risonha. - É uma honra para a família!...
Jorge concordou. Passeava pela sala fumando; e disse que gozava tanto a coroa, como se tivesse direito a usá-la...
E Ernestinho voltando-se logo para ele:
- Sabes que lhe perdoei, primo Jorge? Perdoei à esposa...
- Como Cristo...
- Como Cristo - confirmou o Ernestinho, com satisfação.
D. Felicidade aprovou logo:
- Fez muito bem! Até é mais moral!
- O Jorge é que queria que eu desse cabo dela - disse Ernestinho, rindo tolamente. - Não se lembra, naquela noite...
- Sim, sim - fez Jorge, rindo também, nervosamente.
- O nosso Jorge - disse com solenidade o Conselheiro - não podia conservar idéias tão extremas. E decerto a reflexão, a experiência da vida...
- Mudei, Conselheiro, mudei - interrompeu Jorge.
E entrou bruscamente no escritório.