O Primo Basílio - Cap. 14: CAPÍTULO XIV Pág. 385 / 414

palco, arrastado; não queria, mas obrigaram-no, a Jesuína por um lado, a Maria Adelaide por outro! Um delírio! O Saavedra do Século tinha-lhe dito: "o amigo é o nosso Shakespeare!" O Bastos da Verdade tinha afirmado: "és o nosso Scribe!" Houve uma ceia. E tinham-lhe dado uma coroa.

- E serve-lhe? - acudiu Julião.

- Perfeitamente; um bocadinho larga...

O Conselheiro disse com autoridade:

- Os grandes autores, o famigerado Tasso, o nosso Camões são sempre representados com as suas respectivas coroas.

- É o que eu lhe aconselho, Sr. Ledesma - acudiu Julião, erguendo-se e batendo-lhe no ombro -, é que se faça retratar de coroa!...

Riram.

E Ernestinho, um pouco despeitado, desdobrando o seu lenço perfumado:

- O Sr. Zuzarte não dispensa o seu epigramazinho...

- É a prova da glória, meu amigo. Nos triunfos dos generais vitoriosos, em Roma, havia um bobo no préstito!

- Eu não sei! - disse Luísa muito risonha. - É uma honra para a família!...

Jorge concordou. Passeava pela sala fumando; e disse que gozava tanto a coroa, como se tivesse direito a usá-la...

E Ernestinho voltando-se logo para ele:

- Sabes que lhe perdoei, primo Jorge? Perdoei à esposa...

- Como Cristo...

- Como Cristo - confirmou o Ernestinho, com satisfação.

D. Felicidade aprovou logo:

- Fez muito bem! Até é mais moral!

- O Jorge é que queria que eu desse cabo dela - disse Ernestinho, rindo tolamente. - Não se lembra, naquela noite...

- Sim, sim - fez Jorge, rindo também, nervosamente.

- O nosso Jorge - disse com solenidade o Conselheiro - não podia conservar idéias tão extremas. E decerto a reflexão, a experiência da vida...

- Mudei, Conselheiro, mudei - interrompeu Jorge.

E entrou bruscamente no escritório.





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