Ela disse apenas com a voz sumida:
- Oh! Jorge! Jorge!
- Bem sei... Mas agora vais ser feliz outra vez... Dize, que sentes?
- Aqui - disse ela, e levava as mãos à cabeça. - Dói-me!
Ele ergueu-se para chamar Julião, mas ela reteve-o, atraiu-o; e devorando-o com os olhos onde a febre se acendia, adiantando o rosto, estendia-lhe os lábios. Ele deu-lhe um beijo inteiro, sincero, cheio de perdão.
- Oh, minha pobre cabeça! - gritou ela.
As fontes latejavam-lhe, e uma cor ardente, seca, esbraseava-lhe o rosto.
Como era habituada a enxaquecas, Julião tranquilizou-os; recomendou um sossego imóvel e sinapismos de mostarda aos pés - até que ele voltasse.
Jorge ficou junto do leito, taciturno, cortado de pressentimentos, de sustos, suspirando às vezes.
Eram então quatro horas; caía uma chuva miudinha, enevoada; a alcova tinha uma luz lúgubre.
- Não há de ser nada... - dizia Sebastião.
Luísa agitava-se no leito, apertando as mãos na cabeça, torturada pela dor crescente, cheia de sede.
Mariana acabava de arrumar em pontas de pés, vagamente assombrada daquela casa, onde só vira desgosto e doença; mas só o pousar sutil dos seus passos fazia sofrer Luísa, como se fossem marteladas sobre o crânio.
Julião não tardou; logo da porta do quarto, o aspecto dela inquietou-o. Acendeu um fósforo, aproximou-lho do rosto; e aquela luz fez-lhe dar um grito como se um ferro frio lhe trespassasse a cabeça.
Os olhos dilatados tinham um reluzir metálico. Conservava-se muito quieta, porque o gesto mais lento lhe dava na nuca dores penetrantes que a dilaceravam. Só de vez em quando sorria para Jorge com uma expressão de aflição serena e muda.
Julião fez logo pôr três travesseiros, para lhe conservar a cabeça alta.