D. Felicidade e Mariana tinham acendido uma lamparina a uma gravura de Nossa Senhora das Dores, e de joelhos rezavam.
O crepúsculo triste descia; parecia trazer um silêncio funerário.
A campainha, então, tocou discretamente; e daí a momentos apareceu a figura do Conselheiro Acácio.
D. Felicidade ergueu-se logo; e vendo as suas lágrimas, o Conselheiro disse lugubremente:
- Venho cumprir o meu dever, ajudar-lhes a passar este transe!
Explicou que encontrara por acaso o bom Dr. Caminha, que lhe contara a fatal ocorrência! Mas muito discretamente não quis entrar na alcova. Sentou-se numa cadeira, colocou melancolicamente o cotovelo sobre o joelho, a testa sobre a mão, dizendo baixo a D. Felicidade:
- Continue as suas orações. Deus é imperscrutável em seus decretos.
Na alcova, Julião estivera tomando o pulso de Luísa; olhou então Sebastião, fez-lhe o gesto de alguma coisa que voa e desaparece... Aproximaram-se de Jorge, que não se movia, de joelhos, com a face enterrada no leito:
- Jorge - disse baixinho Sebastião.
Ele levantou o rosto desfigurado, envelhecido, os cabelos nos olhos, as olheiras escuras.
- Vá, vem - disse Julião. E vendo o espanto do seu olhar: - Não, não está morta, está naquela sonolência... Mas vem.
Ele ergueu-se, dizendo com mansidão:
- Pois sim, eu vou. Estou bem... Obrigado.
Saiu da alcova.
O Conselheiro levantou-se, foi abraçá-lo com solenidade:
- Aqui estou, meu Jorge!
- Obrigado, Conselheiro, obrigado.
Deu alguns passas pelo quarto; os seus olhos pareciam preocupar-se com um embrulho que estava sobre a mesa; foi apalpá-lo; desapertou as pontas, e viu os cabelos de Luísa. Ficou a olhá-los, erguendo-os, passando-os de uma das mãos para outra, e disse com os beiços a tremer:
- Fazia tanto gosto neles, coitadinha!
Tornou a entrar na alcova.