Se quisesse alguma coisa do Alentejo...
Julião carregou o chapéu na cabeça:
- Dá cá outro charuto, por despedida! Dá cá dois!
- Leva a caixa! Eu em viagem só fumo cachimbo. Leva a caixa, homem!
Embrulhou-lha num Diário de Notícias; Julião meteu-a debaixo do braço, e descendo os degraus:
- Cuidado com as sezões, e descobre uma mina de ouro!
Jorge e Sebastião entraram na sala. Ernestinho, encostado ao piano, torcia as guias do bigodinho, e Luísa começava uma valsa de Strauss - o Danúbio azul.
Jorge disse, rindo, estendendo os braços:
- Uma valsa, D. Felicidade?
Ela voltou-se, com um sorriso. E por que não? Em nova era falada! Citou logo a valsa que dançara com o senhor D. Fernando, no tempo da Regência, nas Necessidades. Era uma valsa linda, dessa época: A pérola de Ofir.
Estava sentada ao pé do Conselheiro, no sofá. E como retomando um diálogo mais querido - continuou, baixo para ele, com uma voz meiga:
- Pois creia, acho-o com ótimas cores.
O Conselheiro enrolava vagarosamente o seu lenço de seda da Índia.
- Na estação calmosa passo sempre melhor. E D. Felicidade?
- Ai! Estou outra, Conselheiro! Muito boas digestões, muito livre de gases... Estou outra!
- Deus o queira, minha senhora, Deus o queira - disse o Conselheiro esfregando lentamente as mãos.
Tossiu, ia levantar-se, mas D. Felicidade pôs-se a dizer:
- Espero que esse interesse seja verdadeiro...
Corou. O corpete flácido do vestido de seda preta enchia-se-lhe com o arfar do peito.
O Conselheiro recaiu lentamente no sofá - e com as mãos nos joelhos:
- D. Felicidade sabe que tem em mim um amigo sincero...
Ela levantou para ele os seus olhos pisados, de onde saíam revelações de paixão e súplicas de felicidade:
- E eu, Conselheiro!.