O Primo Basílio - Cap. 16: CAPÍTULO XVI Pág. 405 / 414

Um criado alemão, que conversava embaixo com o porteiro, reconheceu-os logo, e tirando o coco:

- Oh, senhor D. Basílio! Oh, senhor visconde!

O Visconde Reinaldo, que batia os pés nas lajes, rosnou de dentro da sua peliça:

- É verdade, aqui estamos outra vez na pocilga!

Mas àquela hora?

- A que horas queria você que chegássemos? Às horas da tabela, talvez! Doze horas de atraso, essa bagatela! Em Portugal é quase nada...

- Houve algum transtorno? - perguntava o criado com solicitude, seguindo-os pela escada.

E Reinaldo, pisando com um pé nervoso o esparto do corredor:

- O transtorno nacional! Descarrilou tudo! Estamos aqui por milagre! Abjeto país!... - E desabafava a sua cólera com o criado: tê-la-ia desabafado com as pedras da rua, tanto era o excesso da bílis: - Há um ano que a minha oração é esta: "Meu Deus, manda-lhe outra vez o terramoto!" Pois todos os dias leio os telegramas a ver se o terramoto chegou... e nada! Algum ministro que cai, ou algum barão que surge. E de terramoto nada! O Onipotente faz ouvidos de mercador às minhas preces... Protege o país! Tão bom é um como outro! - E sorria, vagamente reconhecido a uma nação, cujos defeitos lhe forneciam tantas pilhérias.

Mas quando o criado, muito consternado, lhe declarou - que não havia senão um salão e uma alcova com duas camas, no terceiro andar - a cólera de Reinaldo não conheceu restrições:

- Então havemos de dormir no mesmo quarto? Você pensa que o senhor D. Basílio é meu amante, seu devasso? Está tudo cheio? Mas quem diabo se lembra de vir a Portugal? Estrangeiros? É justamente o que me espanta! - E encolhendo os ombros com rancor: - É o clima, é o clima que os atrai! O clima, este prodigioso engodo nacional! Um clima pestífero.





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