Ah! Positivamente devia escrever a Jorge, que voltasse depressa! Que o que tinha graça era ir surpreendê-lo a Évora, cair-lhe no Tabaquinho, um dia, às três horas! E quando ele entrasse empoeirado e encalmado, de lunetas azuis, atirar-se-lhe ao pescoço! E à tardinha, pelo braço dele, ainda quebrada da jornada, coto um vestido fresco, ir ver a cidade. Pelas ruas estreitas e tristes admiravam-na muito. Os homens vinham às portas das lojas. Quem seria? É de Lisboa. É a do Engenheiro. - E diante do toucador, apertando o corpete do vestido, sorria àquelas imaginações, e ao seu rosto, no espelho.
A porta do quarto rangeu devagarinho.
- Que é?
A voz de Juliana, plangente, disse:
- A senhora dá licença que eu vá logo ao médico?
- Vá, mas não se demore. Puxe-me essa saia atrás. Mais. O que é que você tem?
- Enjôos, minha senhora, peso no coração. Passei a noite em claro.
Estava mais amarela, o olhar muito pisado, a face envelhecida. Trazia um vestido de merino preto escoado, e a cuia da semana de cabelos velhos.
- Pois sim, vá - disse Luísa. - Mas arranje tudo antes. E não se demore, hem?
Juliana subiu logo à cozinha. Era no segundo andar, com duas janelas de sacada para as traseiras, larga, ladrilhada de tijolo diante do fogão.
- Diz que sim, Sra. Joana - disse à cozinheira -, que podia ir. Vou-me vestir. Ela também está quase pronta. Fica vossemecê com a casa por sua!
A cozinheira fez-se vermelha, pôs-se a cantar, foi logo sacudir, estender na varanda um velho tapete esfiado; e os seus olhos não deixavam, defronte, uma casa baixa, pintada de amarelo, com um portal largo - a loja de marceneiro do tio João Galho, onde trabalhava o Pedro, o seu amante. A pobre Joana babava-se por ele. Era um rapazola pálido e afadistado; Joana era minhota, de Avintes, de família de lavrador, e aquela figura delgada de lisboeta anêmico seduzia-a com uma violência abrasada.