- Estás muito bem instalada aqui - disse.
Não estava mal... A casa era pequena, mas muito cómoda. Pertencia-lhes.
- Ah! Estás perfeitamente! Quem é esta senhora, com uma luneta de ouro?
E indicava o retrato por cima do sofá.
- A mãe de meu marido.
- Ah! Vive ainda?
- Morreu.
- É o que uma sogra pode fazer de mais amável...
Bocejou ligeiramente, fitou um momento os seus sapatos muito aguçados, e com um movimento brusco, ergueu-se, tomou o chapéu.
- Já? Onde estás?
- No Hotel Central. E até quando?
- Até quando quiseres. Não disseste que vinhas amanhã com o rosário?
Ele tomou-lhe a mão, curvou-se:
- Já se não pode dar um beijo na mão de uma velha prima?
- Por que não?
Pousou-lhe um beijo na mão, muito longo, com uma pressão doce.
- Adeus! - disse.
E à porta com o reposteiro meio erguido, voltando-se:
- Sabes, que eu, ao subir as escadas, vinha a perguntar a mim mesmo, como se vai isto passar?
- Isto quê? Vermo-nos outra vez? Mas, perfeitamente. Que imaginaste tu?
Ele hesitou, sorriu:
- Imaginei que não eras tão boa rapariga. Adeus. Amanhã, hem?
No fundo da escada acendeu o charuto, devagar.
- "Que bonita que ela está!" - pensou.
E arremessando o fósforo, com força:
- "E eu, pedaço de asno, que estava quase decidido a não a vir ver! Está de apetite! Está muito melhor! E sozinha em casa; aborrecidinha talvez!..."
Ao pé da Patriarcal fez parar um cupé vazio; e estendido, com o chapéu nos joelhos, enquanto a parelha esfalfada trotava:
- "E tem-me o ar de ser muito asseada, coisa rara na terra! As mãos muito bem tratadas! O pé muito bonito!"
Revia a pequenez do pé, pôs-se a fazer por ele o desenho mental de outras belezas, despindo-a, querendo adivinhá-la.