Do céu estrelado caía uma luz difusa; janelas alumiadas sobressaíam ao longe, abertas à noite abafada; vôos de morcegos passavam diante da vidraça.
- A senhora não quer luz? - perguntou à porta a voz fatigada de Juliana.
- Ponha-a no quarto.
Desceu. Bocejava muito; sentia-se quebrada.
- "É trovoada" - pensou.
Foi à sala, sentou-se ao piano, tocou ao acaso bocados da Lúcia, da Sonâmbula, o Fado; e parando, os dedos pousados de leve sobre o teclado, pôs-se a pensar que Basílio devia vir no dia seguinte; vestiria o roupão novo de fular cor de castanho! Recomeçou o Fado, mas os olhos cerravam-se-lhe.
Foi para o quarto.
Juliana trouxe o rol e a lamparina. Vinha arrastando as chinelas, com um casabeque pelos ombros, encolhida e lúgubre. Aquela figura com um ar de enfermaria irritou Luísa:
- Credo, mulher! Você parece a imagem da morte!
Juliana não respondeu. Pousou a lamparina; apanhou, placa a placa, sobre a cómoda, o dinheiro das compras; e com os olhos baixos:
- A senhora não precisa mais nada, não?
- Vá-se, mulher, vá!
Juliana foi buscar o candeeiro de petróleo, subiu ao quarto. Dormia em cima, no sótão, ao pé da cozinheira.
Pareço-te a imagem da morte! - resmungava, furiosa.
O quarto era baixo, muito estreito, com o teto de madeira inclinado; o sol, aquecendo todo o dia as telhas por cima, fazia-o abafado como um forno; havia sempre à noite um cheiro requentado de tijolo escandecido.