Dormia num leito de ferro, sobre um colchão de palha mole coberto de uma colcha de chita; da barra da cabeceira pendiam os seus bentinhos e a rede enxovalhada que punha na cabeça; ao pé tinha preciosamente a sua grande arca de pau, pintada de azul, com uma grossa fechadura. Sobre a mesa de pinho estava o espelho de gaveta, a escova de cabelos enegrecida e despelada, um pente de osso, as garrafas de remédio, uma velha pregadeira de cetim amarelo, e, embrulhada num jornal, a cuja de retrós dos domingos. E o único adorno das paredes sujas, riscadas da cabeça de fósforos - era uma litografia de Nossa Senhora das Dores por cima da cama, e um daguerreótipo onde se percebia vagamente, no reflexo espelhado da lâmina, os bigodes encerados e as divisas de um sargento.
- A senhora já se deitou, Sra. Juliana? - perguntou a cozinheira do quarto pegado, de onde saía uma barra de luz viva cortando a escuridão do corredor.
- Já se deitou, Sra. Joana, já. Está hoje com os azeites. Falta-lhe o homem!
Joana, às voltas, fazia ranger as madeiras velhas da cama. Não podia dormir! Abafava-se! Uf!
- Ai! E aqui! - exclamou Juliana.
Abriu o postigo que dava para os telhados, para deixar arejar; calçou as chinelas de tapete, e foi ao quarto de Joana. Mas não entrou, ficou à porta; era criada de dentro, evitava familiaridades. Tinha tirado a cuja, e com um lenço preto e amarelo amarrado na cabeça, o seu rosto parecia mais chupado, e as orelhas mais despegadas do crânio; a camisa decotada descobria as clavículas descarnadas; a saia curta mostrava as canelas muito brancas, muito secas. E com o casabeque pelos ombros, coçando devagarinho os cotovelos agudos:
- Diga-me cá, Sra. Joana - disse com a voz discreta -, aquele sujeito demorou-se muito? Reparou?
- Tinha saído naquele instantinho, quando vossemecê entrou.