Luísa quis-se sentar.
Um garoto de blusa, sujo como um esfregão, correu a arranjar cadeiras; e acomodaram-se ao pé de uma família acabrunhada e taciturna.
- Que fizeste tu hoje, Basílio? - perguntou Luísa.
Tinha ido aos touros.
- E que tal? Gostaste?
- Uma sensaboria. Se não fosse pelo trambolhão do Peixinho tinha-se morrido de pasmaceira. Gado fraco, cavaleiros infelizes, nenhuma sorte! Touros em Espanha! Isso sim!
D. Felicidade protestou. Que horror! Tinha-os visto em Badajoz, quando estivera de visita em Elvas à tia Francisca de Noronha, e ia desmaiando. O sangue, as tripas dos cavalos... "Puh! E muito cruel!"
Basílio disse, com um sorriso:
- Que faria se visse os combates de galos, minha senhora!
D. Felicidade tinha ouvido contar - mas achava todos esses divertimentos bárbaros, contra a Religião.
E recordando um gozo que lhe punha um riso na face gorda:
- Para mim não há nada como uma boa noite de teatro! Nada!
- Mas aqui representam tão mal! - replicou Basílio com uma voz desolada. - Tão mal, minha rica senhora!
D. Felicidade não respondeu; meio erguida na cadeira, o olhar avivado de um brilho úmido, saudava desesperadamente com a mão:
- Não me viu - disse desconsolada.
- Era o Conselheiro? - perguntou Luísa.
- Não. Era a Condessa de Alviela. Não me viu! Vai muito à Encarnação, sou muito dela. É um anjo! Não me viu. Ia com o sogro.
Basílio não tirava os olhos de Luísa. Sob o véu branco, à luz falsa do gás, no ar enevoado da poeira, o seu rosto tinha uma forma alva e suave, onde os olhos que a noite escurecia punham uma expressão apaixonada; os cabelinhos louros, frisados tornando a testa mais pequena, davam-lhe uma graça ameninada e amorosa; e as luvas gris perle faziam destacar sobre o vestido negro o desenho elegante das mãos, que ela pousara no regaço, sustentando o leque, com uma fofa renda branca em torno dos seus pulsos finos.