- Ora, vê-se sem o seu maridinho! Desde que o não tem está esta mona que se vê.
Luísa respondeu, olhando Basílio instintivamente:
- Que tolice! Até estes dias tenho andado bem alegre!
Mas D. Felicidade insistia:
- Ora, bem sabemos, bem sabemos. Esse coraçãozinho está no Alentejo!
Luísa disse, com impaciência:
- Não hás de querer que me ponha aos pulos e às gargalhadas no Passeio.
- Está bem, não te enfureças! - exclamou D. Felicidade. E para Basílio:
- Que geniozinho, hem!
Basílio pôs-se a rir.
- A prima Luísa antigamente era uma víbora. Agora não sei...
D. Felicidade acudiu:
- É uma pomba, coitada, é uma pomba! Não, lá isso, é uma pomba.
E envolvia-a num olhar maternal.
Mas a família taciturna ergueu-se, sem ruído - e as meninas adiante, os pais atrás, afastaram-se lugubremente, sucumbidos.
Basílio imediatamente apossou-se da cadeira ao pé de Luísa - e vendo D. Felicidade a olhar distraída:
- Estive para te ir ver de manhã - disse baixinho a Luísa.
Ela ergueu a voz, muito naturalmente, com indiferença:
- E por que não foste? Tínhamos feito música. Fizeste mal. Devias ter ido...
D. Felicidade quis então saber as horas. Começava a enfastiar-se. Tinha esperado encontrar o Conselheiro; por ele, para lhe parecer bem, fizera o sacrifício de se apertar! Acácio não vinha, os gases começavam a afrontá-la; e o despeito daquela ausência aumentava-lhe a tortura da digestão. Na sua cadeira, o corpo mole, ia seguindo a multidão que girava incessantemente, numa névoa empoeirada.
Mas a música, no coreto, bateu de repente, alto, a grande ruído de cobres, os primeiros compassos impulsivos da marcha do Fausto. Aquilo reanimou-a.
Era pot-pourri da ópera - e não havia música de que gostasse mais.