O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 96 / 414

brancos, os olhos cerrados - e Basílio, pousando-lhe a mão sobre a testa, inclinou-lhe a cabeça para trás, beijou-lhe as pálpebras devagar, a face, os lábios depois muito profundamente; os beiços dela entreabriram-se; os seus joelhos dobraram-se.

Mas de repente todo o seu corpo se endireitou, com um pudor indignado, afastou o rosto, exclamou aflita:

- Deixa-me, deixa-me!

Viera-lhe uma força nervosa; desprendeu-se, empurrou-o; e passando as mãos abertas pela testa, pelos cabelos:

- Oh meu Deus! É horrível! - murmurou. - Deixa-me! É horrível!

Ele adiantava-se com os dentes cerrados; mas Luísa recuava, dizia:

Vai-te. Que queres tu? Vai-te! Que fazes tu aqui? Deixa-me!

Ele então tranquilizou-a com a voz subitamente serena e humilde. Não percebia. Por que se zangava? Que tinha um beijo? Ele não pedia mais. Que tinha ela imaginado, então? Adorava-a, decerto, mas puramente.

- Juro-to! - disse com força, batendo no peito.

Fê-la sentar no sofá, sentou-se ao pé dela. Falou-lhe muito sensatamente: - Via as circunstâncias, e resignar-se-ia. Seria como uma amizade de irmãos, nada mais.

Ela escutava-o, esquecida.

Decerto, dizia ele, aquela paixão era uma tortura imensa. Mas era forte, a Só queria vir vê-la, falar-lhe. Seria um sentimento ideal. - E os seus devoraram-na.

Voltou-lhe a mão, curvou-se, pôs-lhe um beijo cheio na palma. Ela estremeceu-se logo:

- Não! Vai-te!

- Bem, adeus.

Levantou-se com um movimento resignado e infeliz. E limpando devagar a seda do chapéu.

- Bem, adeus - repetiu melancolicamente.

- Adeus

Basílio disse então com muita ternura:

- Estás zangada?

- Não!

- Escuta - murmurou, adiantando-se.

Luísa bateu com o pé.

- Oh, que homem! Deixa-me! Amanhã.





Os capítulos deste livro