O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 98 / 414

E no palco, que representava uma sala de baile amarela, um velhote condecorado falava a uma magrita de cabelos riçados, sem cessar, com o tom diluído de uma água gordurosa e morna que escorre.

Sebastião saiu. Onde estariam? Soube-se na manhã seguinte.- Descia o Moinho de Vento, e um vizinho, o Neto, que subia curvado sob o seu guarda-sol, com o cigarro ao canto do bigode grisalho, deteve-o bruscamente, para lhe dizer:

- Ó amigo Sebastião, ouça cá. Vi ontem à noite no Passeio a D. Luísa com um rapaz que eu conheço. Mas de onde conheço eu aquela cara? Quem diabo é?

Sebastião encolheu os ombros.

- Um rapaz alto, bonito, com um ar estrangeirado. Eu conheço-o. Noutro dia vi-o entrar para lá. Você não sabe?

Não sabia.

- Eu conheço aquela cara. Tenho estado a ver se me recordo... Passava a mão pela testa. - Eu conheço aquela cara! Ele é de Lisboa. De Lisboa é ele!

E depois de um silêncio, fazendo girar o guarda-sol:

- E que há de novo, Sebastião?

Também não sabia. Nem eu!

E bocejando muito:

- Isto está uma pasmaceira, homem!

Nessa tarde, às quatro horas, Sebastião voltou à casa de Luísa. Estava com "o sujeito!" Ficou então preocupado. Decerto era algum negócio de Jorge; porque não compreendia que ela falasse, sentisse, vivesse, que não fosse no interesse da casa e para maior felicidade de Jorge. Mas devia ser grave então - para reclamar visitas, encontros, tantas relações. Tinham pois interesses importantes que ele não conhecia! E aquilo parecia-lhe uma ingratidão, e como uma diminuição de amizade.

A tia Joana tinha-o achado "macambúzio".

Foi ao outro dia que soube que o sujeito era o primo Basílio, o Basílio de Brito. O seu vago desgosto dissipou-se, mas um receio mais definido veio inquietá-lo Sebastião não conhecia Basílio pessoalmente, mas sabia a crônica da sua mocidade.





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