Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 5: Capítulo 5

Página 108
No fim a frisa é para o Ega, para o Taveira, para o Cruges... Olhe, eu não me utilizo dela; nem o amigo. É verdade, que o amigo está de luto.

Eusébio pensou, com despeito, que se podia meter para o fundo da frisa - se tivesse sido convidado. E murmurou, sem conter um sorriso mole:

- Indo assim, até se podem encalacrar...

Uma tal palavra, tão humilhante, aplicada aos Maias, à casa que ele administrava, escandalizou Vilaça. Encalacrar! Ora essa!

- O amigo não me compreendeu... há despesas inúteis, sim, mas, louvado Deus, a casa pode bem com elas! É verdade que o rendimento gasta-se todo, até o último ceitil; os cheques voam, voam, como folhas secas; e até aqui o costume da casa foi pôr de lado, fazer bolo, fazer reserva. Agora o dinheiro derrete-se...

Eusébio rosnou algumas palavras sobre os trens de Carlos, os nove cavalos, o cocheiro inglês, os grooms... O procurador acudiu:

- Isso, amigo, é de razão. Uma gente destas deve ter a sua representação, as suas coisas bem montadas. há deveres na sociedade... É como o Sr. Afonso... Gasta muito, sim, come dinheiro. Não é com ele, que lhe conheço aquele casaco há vinte anos... Mas são esmolas, são pensões, são empréstimos que nunca mais vê...

- Desperdícios...

- Não lho censuro... É o costume da casa; nunca da porta dos Maias, já meu pai dizia, saiu ninguém descontente... Mas uma frisa, de que ninguém usa! só para o Cruges, só para o Taveira!...

Teve de se calar. Justamente ao fundo do corredor assomava o Taveira, abafado até aos olhos na gola de uma Ulster, de onde saíam as pontas de um cachenés de seda clara. O escudeiro desembaraçou-o dos agasalhos; e ele, de casaca e colete branco, limpando o

bonito bigode húmido da geada, veio apertar a mão ao caro Vilaça, ao amigo Eusébio, arrepiado, mas achando o frio elegante, desejando a neve e o seu chic...

- Nada, nada, dizia Vilaça todo amável, cá o nosso solzinho português sempre é melhor...

E foram entrando no fumoir, onde se ouviam as vozes do marquês, de Carlos, numa das suas sábias e prolixas cavaqueiras sobre cavalos e sport.

<< Página Anterior

pág. 108 (Capítulo 5)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 108

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605