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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 107

Mas era tarde, ia-se agasalhar, recolher, depois de acabar a sua chazada. O marquês ainda se demorou, preguiçando no sofá, enchendo lentamente o cachimbo, dando um olhar àquela sala que o encantava com o seu luxo Luiz XV, os seus floridos e os seus

dourados, as cerimoniosas poltronas de Beauvais feitas para a amplidão das anquinhas, as tapeçarias de Gobelins de tons desmaiados, cheias de galantes pastoras, longes de parques, laços e lãs de cordeiros, sombras de idílios mortos, transparecendo numa trama de seda... Àquela hora, no adormecimento que ia pesando, sob a luz suave e quente das velas que findavam, havia ali a harmonia e o ar de um outro século: e o marquês reclamou do Cruges um minuete, uma gavota, alguma coisa que evocasse Versalhes, Maria Antonieta, o ritmo das belas maneiras e o aroma dos empoados. Cruges deixou morrer sob os dedos a melodia vaga que estava diluindo em suspiros, preparou-se, alargou os braços - e atacou, com um pedal solene, o Himno da Carta. O marquês fugiu.

Vilaça e Eusébiozinho conversavam no corredor, sentados numa das arcas baixas de carvalho lavrado.

- A fazer política? perguntou-lhes o marquês ao passar.

Ambos sorriram; Vilaça respondeu jocosamente:

- É necessário salvar a pátria!

Eusébio pertencia também ao centro progressista, aspirava a influência eleitoral no círculo de Resende, e ali às noites no Ramalhete faziam conciliábulos. Nesse momento porém falavam dos Maias: Vilaça não duvidava confiar ao Silveirinha, homem de propriedade, vizinho de Sta. Olávia, quase criado com Carlos, certas coisas que lhe desagradavam na casa, onde a autoridade da sua palavra parecia diminuir; assim, por exemplo, não podia aprovar o ter Carlos tomado uma frisa de assinatura.

- Para que, exclamava o digno procurador, para que, meu caro senhor? Para lá não pôr os pés, para passar aqui as noites... Hoje diz que há entusiasmo, e ele aí esteve. Tem ido lá, eu sei? duas ou três vezes... E para isto dá cá uns poucos de centos de mil réis

Podia fazer o mesmo com meia dúzia de libras! Não, não é governo.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 107

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605