Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 5: Capítulo 5

Página 111
Sequeira e Steinbroken tinham partido; e D. Diogo, no fundo da sua velha traquitana, lá fora também a tomar ainda gemada, a pôr ainda o emplastro, sob o olho solícito da Margarida, sua cozinheira e seu derradeiro amor. E os outros não tardaram a deixar o Ramalhete. Taveira, de novo sepultado na Ulster, trotou até casa, uma vivendazinha perto com um bonito jardim. O marquês conseguiu levar Cruges no coupé, para lhe ir fazer música a casa, no órgão, até às três ou quatro horas, música religiosa e triste, que o fazia chorar, pensando nos seus amores e comendo frango frio com fatias de salame. E o viúvo, o Eusébiozinho, esse, batendo o queixo, tão morosa e soturnamente como se caminhasse para a sua própria sepultura, lá se dirigiu ao lupanar onde tinha uma paixão.

O laboratório de Carlos estava pronto - e muito convidativo, com o seu soalho novo, fornos de tijolo fresco, uma vasta mesa de mármore, um amplo divã de clina para o repouso depois das grandes descobertas, e em redor, por sobre peanhas e prateleiras, um

rico brilho de metais e cristais; mas as semanas passavam, e todo esse belo material de experimentação, sob a luz branca da claraboia, jazia virgem e ocioso. Só pela manhã um servente ia ganhar o seu tostão diário, dando lá uma volta preguiçosa com um espanador na mão.

Carlos realmente não tinha tempo de se ocupar do laboratório; e deixaria a Deus mais algumas semanas o privilégio exclusivo de saber o segredo das coisas - como ele dizia rindo ao avô. Logo pela manhã cedo ia fazer as suas duas horas de armas com o velho Randon; depois via alguns doentes no bairro onde se espalhara, com um brilho de legenda, a cura da Marcelina - e as garrafas de Bordéus que lhe mandara Afonso. Começava a ser conhecido como médico. Tinha visitas no consultório - ordinariamente bacharéis, seus contemporâneos, que sabendo-o rico o consideravam gratuito, e lá entravam, murchos e com má cara, a contar a velha e mal disfarçada história de ternuras funestas. Salvara de um garrotilho a filha de um brasileiro, ao Aterro - e ganhara aí a sua primeira libra, a primeira que pelo seu trabalho ganhava um homem da sua família.

<< Página Anterior

pág. 111 (Capítulo 5)

Página Seguinte >>

Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 111

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605