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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 124
A voz era lenta e rotunda; os cristais da sua luneta de ouro faiscavam vistosamente; e no bigode encerado, na pêra curta, havia ao mesmo tempo alguma coisa de doutoral e de casquilho.

Carlos dizia: «Tem v. Ex.ª razão, Sr. conde.» O Ega dizia: «Você vê essas coisas de alto, Gouvarinho». Ele cruzara as mãos por baixo das abas da casaca - e estavam todos três muito sérios.

Depois o conde abriu a porta da frisa, Ega desapareceu. E daí a um momento, Carlos, apresentado como «vizinho de camarote», recebia da Sr.ª condessa um grande shake-hand, em que tilintaram uma infinidade de aros de prata e de blangles índios sobre a sua luva preta de doze botões.

A Sr.ª condessa, um pouco corada, ligeiramente nervosa, lembrou logo a Carlos que o vira no verão passado em Paris, no salão baixo do Café Inglês: até por sinal estava nessa noite um velho abominável com duas garrafas vazias diante de si, e contando alto, para uma mesa defronte, histórias horrorosas do Sr. Gambeta: um sujeito ao lado protestou; o outro não fez caso, era o velho duque de Gramont. O conde passou os dedos lentos pela testa, com um ar quase angustioso: não se lembrava de nada disso! Queixou-se logo amargamente da sua falta de memória. Uma coisa tão indispensável em quem segue a vida pública, a memória! e ele desgraçadamente, não possuía nem um átomo. Por exemplo, lera (como todo o homem devia ler) os vinte volumes da História Universal de Cesar Cantu; lera-os com atenção, fechado no seu gabinete, absorvendo-se na obra. Pois, senhores, escapara-lhe tudo - e ali estava sem saber história!

- V. Ex.ª tem boa memória, Sr. Maia?

- Tenho uma razoável memória.

- Inapreciável bem de que goza!

A condessa voltara-se para a plateia, coberta com o leque, com o ar constrangido, como se aquelas palavras pueris do marido a diminuíssem, a desfeiassem... Carlos então falou da ópera. Que belo escudeiro huguenote fazia o Pandoli! A condessa não aturava o Corceli, o tenor, com as suas notas ásperas e aquela obesidade que o tornava bufo. Mas também (lembrava Carlos) onde havia hoje tenores?

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 124

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605