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Capítulo 5: Capítulo 5

Página 125
Passara essa grande raça dos Mários, homens de beleza, de inspiração, realizando os grandes tipos líricos. Nicolini era já uma degeneração... Isto fez lembrar a Pati. A condessa adorava-a, e a sua graça de fada, e a sua voz semelhante a uma chuva de ouro!...

Os olhos brilhavam-lhe, diziam mil coisas; em certos movimentos, o cabelo crespamente ondeado, tomava tons de ouro vermelho: e em torno dela errava, no calor do gaz e da enchente, um aroma exagerado de verbena. Estava de preto, com uma gargantilha de rendas negras, à Valois, afogando-lhe o pescoço onde pousavam duas rosas escarlates. E toda a sua pessoa tinha um arzinho de provocação e de ataque. De pé, calado, grave, o conde batia a coxa com a claque fechada.

O quarto acto começara, Carlos ergueu-se; e os seus olhos encontraram defronte, na frisa do Cohen, o Ega, de binóculo, observando-o, mirando a condessa e falando a Rachel, que sorria, movia o leque com um ar dolente e vago.

- Nós recebemos às terças feiras, disse a condessa a Carlos - e o resto da frase perdeu-se num murmúrio e num sorriso.

O conde acompanhou-o fora, ao corredor.

- É sempre uma honra para mim, dizia ele caminhando ao lado de Carlos, fazer o conhecimento das pessoas que valem alguma coisa neste país... V. Ex.ª é desse número, bem raro infelizmente.

Carlos protestou, risonho. E o outro, na sua voz lenta e rotunda:

- Não o lisonjeio. Eu nunca lisonjeio... Mas a v. Ex.ª podem-se dizer estas coisas, porque pertence à elite: a desgraça de Portugal é a falta de gente. Isto é um país sem pessoal. Quer-se um bispo? Não há um bispo. Quer-se um economista? Não há um economista. Tudo assim! Veja v. Ex.ª mesmo nas profissões subalternas. Quer-se um bom estofador? Não há um bom estofador...

Um cheio de instrumentos e vozes, de um tom sublime, passando pela porta da frisa entreaberta, cortou-lhe umas últimas palavras sobre a deficiência dos fotógrafos... Escutou, com a mão no ar:

- É o coro dos punhais, não? Ah vamos a ouvir... Ouve-se sempre isto com proveito. Há filosofia nesta música... É pena que lembre tão vivamente os tempos da intolerância religiosa, mas há ali incontestavelmente filosofia!

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 125

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605