?...
- Isso são os lisboetas, disse Craft.
- Lisboa é Portugal, gritou o outro. fora de Lisboa não há nada. O país está todo entre a Arcada e S. Bento!...
A mais miserável raça da Europa! continuava ele a berrar. E que exercito! Um regimento, depois de dois dias de marcha, dava entrada em massa no hospital! Com seus olhos tinha ele visto, no dia da abertura das Cortes, um marujo sueco, um rapagão do Norte, fazer debandar, a socos, uma companhia de soldados; as praças tinham literalmente largado a fugir, com a patrona a bater-lhe os rins; e o oficial, enfiado de terror, meteu-se para uma escada, a vomitar!...
Todos protestaram. Não, não era possível... Mas se ele tinha visto, que diabo!... Pois sim, talvez, mas com os olhos falazes da fantasia...
- Juro pela saúde da mamã! gritou Ega furioso.
Mas emudeceu. O Cohen tocara-lhe no braço. O Cohen ia falar.
O Cohen queria dizer que o futuro pertence a Deus. Que os espanhóis porém pensassem na invasão isso parecia-lhe certo - sobretudo se viessem, como era natural, a perder Cuba. Em Madrid todo o mundo lho dissera. Já havia mesmo negócios de fornecimentos entabulados...
- Espanholadas, galegadas! rosnou Alencar, por entre dentes, sombrio e torcendo os bigodes.
- No Hotel de Paris, continuou Cohen, em Madrid, conheci eu um magistrado, que me disse com um certo ar que não perdia a esperança de se vir estabelecer de todo em Lisboa; tinha-lhe agradado muito Lisboa, quando cá estivera a banhos. E em quanto a mim, estou que há muitos espanhóis que estão à espera deste aumento de território para se empregarem!
Então Ega caiu em êxtase, apertou as mãos contra o peito. Oh que delicioso traço! Oh que admiravelmente observado!
- Este Cohen! exclamava ele para os lados. Que finamente observado! Que traço adorável! Hein, Craft?
Hein, Carlos? Delicioso!
Todos cortesmente admiraram a finura do Cohen. Ele agradecia, com o olho enternecido, passando pelas suíças a mão onde reluzia um diamante.