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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 165
Numa dessas ocasiões, tendo Carlos soltado um trivial gracejo, eis o Dâmaso rompendo em risadas soluçantes, rebolando-se pelos sofás, com as mãos nas ilhargas, a gritar que rebentava! Juntaram-se sócios; ele, sufocado, repetia a pilheria; Carlos fugiu vexado. Chegou a odiá-lo; respondia-lhe só com monossílabos; dava voltas perigosas com o dog-cart se lhe avistava de longe a bochecha, a coxa roliça. Debalde: Dâmaso Cândido Salcede filara-o, e para sempre.

Depois, um dia, Taveira apareceu no Ramalhete com uma extraordinária história. Na véspera, no Grémio (tinham-lhe contado, ele não presenciara) um sujeito, um Gomes, num grupo onde se comentavam os Maias, erguera a voz, exclamara que Carlos era um asno! Dâmaso, que estava ao lado mergulhado na Ilustração, levantou-se, muito pálido, declarou que, tendo a honra de ser amigo do Sr. Carlos da Maia, quebrava a cara com a bengala ao Sr. Gomes se ele ousasse babujar outra vez esse cavalheiro; e o Sr. Gomes tragou, com os olhos no chão, a afronta, por ser raquítico de nascença - e porque era inquilino de Dâmaso e andava muito atrasado na renda. Afonso da Maia achou este feito brilhante: e foi por desejo seu que Carlos trouxe o Sr. Salcede uma tarde a jantar ao Ramalhete.

Este dia pareceu belo a Dâmaso como se fosse feito de azul e oiro. Mas melhor ainda foi a manhã em que Carlos, um pouco incomodado e ainda deitado, o recebeu no quarto, como entre rapazes... Daí datava a sua intimidade: começou a tratar Carlos por você. Depois, nessa semana, revelou aptidões úteis. Foi despachar à alfândega (Vilaça achava-se no Alentejo) um caixote de roupa para Carlos. Tendo aparecido num momento em que Carlos copiava um artigo para a Gazeta Medica ofereceu a sua boa letra, letra prodigiosa, de uma beleza litográfica; e daí por diante passava horas à banca de Carlos, aplicado e vermelho, com a ponta da língua de fora, o olho redondo, copiando apontamentos, transcrições de Revistas, materiais para o livro... Tanta dedicação merecia um tu de familiaridade. Carlos deu-lho.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 165

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605