Os Maias - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 167 / 630

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- Esta é boa, exclamou Dâmaso ao mesmo tempo, com uma palmada na coxa. Olha quem aqui me aparece! A Susana! A minha Susana!

Carlos não despegara os olhos da página.

- Oh Carlos, acrescentou ele, fazes favor? Ouve. Ouve esta que é boa. Esta Susana é uma pequena que eu tive em Paris... Um romance! Apaixonou-se por mim, quis-se envenenar, o diabo!... Pois diz aqui o Fígaro que debutou nas Folies-Bergeres. Fala nela...

É boa, hein? E era rapariguita chic... E o Fígaro diz que ela teve aventuras, naturalmente sabia o que se passou comigo... Todo o mundo sabia em Paris. Ora a Susana!... Tinha bonitas pernas. E custou-me a ver livre dela!

- Mulheres! murmurou Carlos, refugiando-se mais no fundo da Revista.

Dâmaso era interminável, torrencial, inundante a falar das «suas conquistas», naquela solida satisfação em que vivia de que todas as mulheres, desgraçadas delas, sofriam a fascinação da sua pessoa e da sua toilete. E em Lisboa, realmente, era exacto. Rico, estimado na sociedade, com coupé e parelha, todas as meninas tinham para ele um olhar doce. E no démi-monde, como ele dizia, «tinha prestigio a valer.» Desde moço fora célebre, na capital, por pôr casas a espanholas; a uma mesmo dera carruagem ao mez; e este fausto excepcional tornara-o bem depressa o D. João V dos prostíbulos. Conhecia-se também a sua ligação com a viscondessa da Gafanha, uma carcaça esgalgada, caiada, rebocada, gasta por todos os homens validos do país: ia nos cinquenta anos, quando chegou a vez do Dâmaso - e não era decerto uma delicia ter nos braços aquele esqueleto rangente e lubrico; mas dizia-se que em nova dormira num leito real, e que augustos bigodes a tinham lambuzado; tanta honra fascinou Dâmaso, e colou-se-lhe às saias com uma fidelidade tão sabuja, que a decrepita criatura, farta, enojada já, teve de o enxotar à força e com desfeitas.





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