Os Maias - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 173 / 630

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Rio muito, foi abraçar Afonso, explicou-lhe que se discutia o baile dos Cohens. E apelou logo para ele, para o Craft também, acerca do nefando dominó de Carlos. Não estava aquele mocetão, com os seus ares de homem de armas, talhado para um soberbo

Francisco I, em toda a glória de Marignan?

O velho deu um olhar enternecido à beleza do neto.

- Eu te digo, John, talvez tenhas razão; mas Francisco I, rei de França, não se pode apear de uma tipoia e entrar numa sala, só. Precisa corte, arautos, cavaleiros, damas, bobos, poetas... Tudo isso é difícil.

Ega curvou-se. Sim senhor, de acordo! Ali estava uma maneira inteligente de compreender o baile dos Cohens!

- E tu, de que vais? perguntou-lhe Afonso.

Era um segredo. Tinha a teoria de que, naquelas festas, um dos encantos consistia na surpresa: dois sujeitos por exemplo que tendo jantado juntos, de jaquetão, no Bragança, se encontram à noite, um na purpura imperial de Carlos V, outro com a escopeta de bandido da Calábria...

- Eu cá não faço segredo, disse ruidosamente Dâmaso. Eu cá vou de selvagem.

- Nu?

- Não. De Nelusko na Africana. Oh Sr. Afonso da Maia, que lhe parece? Acha chic?

- Chic não exprime bem, disse Afonso sorrindo. Mas grandioso, é, decerto.

Quiseram então saber como ia Craft. Craft não ia de coisa nenhuma; Craft ficava nos Olivais, de robe de chambre.

Ega encolheu os ombros com tédio, quase com cólera. Aquelas indiferenças pelo baile dos Cohens feriam-no como injúrias pessoais. Ele estava dando a essa festa o seu tempo, estudos na biblioteca, um trabalho fumegante de imaginação; e pouco a pouco ela tomava aos seus olhos a importância de uma celebração de arte, provando o génio de uma cidade. Os «dominós», as abstenções, pareciam-lhe evidências de inferioridade de espírito. Citou então o exemplo do Gouvarinho: ali estava um homem de ocupações, de posição política, nas vésperas de ser ministro, que não só ia ao baile, mas estudara o seu costume: estudara, e ia muito bem, ia de marquês de Pombal!

- Reclame para ser ministro, disse Carlos.





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