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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 174

- Não o precisa, exclamou Ega. Tem todas as condições para ser ministro: tem voz sonora, leu Maurício Block, está encalacrado, e é um asno!...

E no meio das risadas dos outros, ele, arrependido de demolir assim um cavalheiro que se interessava pelo baile dos Cohens, acudiu logo:

- Mas é muito bom rapaz, e não se dá ares nenhuns! É um anjo!

Afonso repreendia-o, risonho e paternal:

- Ora tu, John, que não respeitas nada...

O desacato é a condição do progresso, Sr. Afonso da Maia. Quem respeita decahe. Começa-se por admirar o Gouvarinho, vai-se a gente esquecendo, chega a reverenciar o monarca, e quando mal se precata tem descido a venerar o Todo-Poderoso!... É necessário cautela!

- Vai-te embora, John, vai-te embora! Tu és o próprio Anticristo...

Ega ia responder, exuberante e em veia - mas dentro o tinir argentino do relógio Luiz XV, com o seu gentil minuete, emudeceu-o.

- O quê? quatro horas!

Ficou aterrado, verificou no seu próprio relógio, deu em redor rápidos, silenciosos apertos de mão, desapareceu como um sopro.

Todos de resto estavam pasmados de ser tão tarde! E assim passara a hora de ir ao Lumiar ver as colchas antigas das senhoras Medeiros...

- Quer você então meia hora de florete, Craft? perguntou Carlos.

- Seja: e é necessário dar a lição ao Dâmaso...

- É verdade, a lição... - murmurou Dâmaso sem entusiasmo, com um sorriso murcho.

A sala de esgrima era uma casa térrea, debaixo dos quartos de Carlos, com janelas gradeadas para o jardim, por onde resvalava, através das árvores, uma luz esverdinhada. Em dias enevoados era necessário acender os quatro bicos de gaz. Dâmaso seguiu, atrás dos dois, com uma lentidão de rés desconfiada.

Aquelas lições, que ele solicitara por amor do chic, iam-se-lhe tornando odiosas. E nessa tarde como sempre, apenas se enchumaçou com o plastrão de anta, se cobriu com a caraça de arame, começou a transpirar, a fazer-se branco. Diante dele Craft de florete na mão, parecia-lhe cruel e bestial, com aqueles seus ombros de Hércules sereno, o olhar claro e frio.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 174

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605