Os Maias - Cap. 7: Capítulo 7 Pág. 178 / 630

- Venha então jantar connosco, Steinbroken.

- Charmé, mon cher, charmé...

A vitória partiu. E o diplomata agasalhando as pernas e o estomago num grande plaid escocês:

- Pôs, Maia, fezemos um belo passêo... Mas este Atêrro no é deverrtido.

Não era divertido o Aterro!... Carlos achara-o nessa tarde o mais delicioso lugar da terra!

Ao outro dia, voltou mais cedo; e, apenas dera alguns passos entre as árvores, viu-a logo. Mas não vinha só; ao seu lado o marido, esticado, apurado numa jaqueta de casimira quase branca, com uma ferradura de diamantes no cetim negro da gravata, fumava, indolente e languido, e trazia a cadelinha debaixo do braço. Ao passar, deu um olhar surpreendido a Carlos - como descobrindo enfim entre os bárbaros um ser de linha civilizada, e disse-lhe algumas palavras baixo, a ela.

Carlos encontrara outra vez os seus olhos, profundos e sérios: mas não lhe parecera tão bela; trazia uma outra toilete menos simples, de dois tons, cor de chumbo e cor de creme, e no chapéu, de abas grandes à inglesa, vermelhava alguma coisa, flor ou pena. Nessa tarde não era a deusa descendo das nuvens de ouro que se enrolavam alem sobre o mar; era uma bonita senhora estrangeira que recolhia ao seu hotel.

Voltou ainda três vezes ao Aterro, não a tornou a ver; e então envergonhou-se, sentiu-se humilhado com este interesse romanesco que o trazia assim numa inquietação de rafeiro perdido, farejando o Aterro, da rampa de Santos ao cais de Sodré, à espera de uns olhos negros e de uns cabelos louros de passagem em Lisboa, e que um paquete da Royal Mail levaria uma dessas manhãs...

E pensar que toda essa semana deixara o seu trabalho abandonado sobre a mesa! E que todas as tardes, antes de sair, se demorava ao espelho, estudando a gravata! Ah, miserável, miserável natureza.

Ao fim dessa semana, Carlos estava no consultório, já para sair, calçando as luvas, quando o criado entreabriu o reposteiro, e murmurou com alvoroço:

- Uma senhora!





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