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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 183

Um cocheiro, ao aceno de Carlos, lançou logo a tipoia.

- E agora, disse ela sorrindo, mande-o ir à igreja da Graça.

- A senhora condessa vai beijar o pé do Senhor dos Passos?

Ela corou de leve, murmurou:

- Ando fazendo as minhas devoções...

Depois saltou ligeiramente para o coupé - deixando Charlie, que Carlos ergueu nos braços e lhe colocou ao lado, paternalmente.

- Que Deus a leve em sua santa guarda, senhora condessa!

Ela agradeceu com um olhar, um movimento de cabeça - ambos tão doces como caricias.

Carlos subiu: e, sem tirar o chapéu, ficou ainda enrolando uma cigarrete, passeando naquela sala sempre deserta, sempre fria, onde ela deixara agora alguma coisa do seu calor e do seu aroma...

Realmente gostava daquela audácia dela - ter vindo assim ao consultório, toda escondida, quase mascarada numa grande toilete negra, inventando um caroço no pescocinho são de Charlie, para o ver, para dar um nó brusco e mais apertado naquele leve fio de relações que ele tão negligentemente deixara cair e quebrar...

O Ega desta vez não fantasiara: aquele bonito corpo oferecia-se, tão claramente como se se despisse. Ah! se ela fosse de sentimentos errantes e fáceis - que bela flor a colher, a respirar, a deitar fora depois! Mas não: como dizia o Baptista, a senhora condessa nunca se tinha divertido. E o que ele não queria era achar-se envolvido numa paixão ciosa, uma dessas ternuras tumultuosas de mulher de trinta anos, de que depois se desembaraçaria dificilmente... Nos braços dela o seu coração ficaria mudo: e apenas esgotada a primeira curiosidade, começaria o tédio dos beijos que se não desejam, a horrível massada do prazer a frio. Depois, teria de ser íntimo da casa, receber pelo ombro as palmadas do senhor conde, ouvir-lhe a voz morosa destilando doutrina... Tudo isto o assustava... E, todavia, gostara daquela audácia! Havia ali uma pontinha de romantismo, muito irregular, e picante... E devia ser deliciosamente bem feita... A sua imaginação despia-a, enrolava-se-lhe no cetim das formas onde sentia ao mesmo tempo alguma cousa de maduro e de virginal...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 183

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605