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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 185
Carlos não sabia, essa manhã não vira jornal nenhum.

- Então não lhe digam nada, gritou o marquês. Venha a surpresa! Cá há a Gazeta? Manda buscar a Gazeta!

Taveira puxou o cordão da campainha; - e quando o escudeiro trouxe a Gazeta, ele apoderou-se dela, quis fazer uma leitura solene.

- Deixa-lhe ver primeiro o retrato, berrou o marquês, erguendo-se.

- Primeiro o artigo! exclamava o Taveira, defendendo-se, com o jornal atrás das costas.

Mas cedeu, e pôs o papel diante dos olhos de Carlos, largamente, como um sudário desdobrado. Carlos reconheceu logo o retrato do Cohen... E a prosa que se alastrava em redor, encaixilhando a face escura de suíças retintas, era um trabalho de seis colunas, em estilo emplumado e cantante, celebrando até aos céus as virtudes domésticas do Cohen, o génio financeiro do Cohen, os ditos de espírito do Cohen, a mobília das salas do Cohen; havia ainda um parágrafo aludindo à festa próxima, ao grande sarau de mascaras do Cohen. E tudo isto vinha assinado - J. da E. - as iniciais de João da Ega!

- Que tolice! exclamou Carlos, com tédio, atirando o jornal para cima do bilhar.

- É mais que tolice, observou Craft; é uma falta de senso moral.

O marquês protestou. Gostava do artigo. Achava-o brilhante, e de velhaco!... E de resto em Lisboa quem dava por uma falta de senso moral?...

- Você, Craft, não conhece Lisboa! Todo o mundo acha isto muito natural. É íntimo da casa, celebra os donos. É admirador da mulher, lisonjeia o marido. Está na lógica cá da terra... Você verá que sucesso isto vai ter... E lá que o artigo está lindo, isso está!

Tomou-o de cima do bilhar, leu alto o trecho sobre o boudoir cor de rosa de madame Cohen: «respira-se ali (dizia o Ega) alguma coisa de perfumado, íntimo e casto, como se todo aquele cor de rosa exalasse de si o aroma que a rosa tem»!

- Isto, caramba, é lindo em toda a parte! exclamou o marquês. Tem muito talento, aquele diabo! Tomara eu ter o talento que ele tem!...

- Nada disso impede, repetiu Craft, cachimbando tranquilamente, que seja uma extraordinária falta de senso moral.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 185

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605