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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 188

Taveira e Carlos, no entanto, tinham começado uma grande partida de dominó, a tostão o ponto. Mas Carlos nessa noite não se interessava, jogando distraído, a cantarolar também baixo bocados tristes da Balada: depois, quando já Taveira tinha só uma pedra diante de si, e ele estava comprando interminavelmente as que restavam, voltou-se para o lado, para o Craft, a perguntar se o hotel da Lawrence, em Sintra, estava aberto todo o ano...

- A ida do Dâmaso para Sintra deu-te no goto, rosnou Taveira impaciente. Anda, joga!

Carlos, sem responder, pousou molemente uma pedra.

- Dominó! gritou Taveira.

E em triunfo, aos pulos, contou ele mesmo os sessenta e oito pontos que Carlos perdia.

Justamente o marquês entrava, e a vitória de Taveira indignou-o.

- Agora nós, exclamou ele, puxando vivamente uma cadeira. Oh Carlos, deixe-me você dar aqui uma sova neste ladrão. Depois jogamos de três... Como queres tu isto, Taveirete? A dois tostões o ponto? Ah, queres só a tostão... Muito bem, eu te ensinarei. Anda, desembaraça-te já desse dôble-seis, miserável...

Carlos ficou ainda um momento olhando o jogo, com uma cigarete apagada nos dedos, o mesmo ar distraído: de repente, pareceu tomar uma decisão, atravessou o corredor, entrou na sala de música. Steinbroken fora ao escritório ver Afonso da Maia, e a partida de whist; e Cruges só, entre as duas velas do piano, com os olhos errantes pelo tecto, improvisava para si, melancolicamente.

- Diz cá, Cruges, perguntou-lhe Carlos, queres vir amanhã a Sintra?

O teclado calou-se, o maestro ergueu um olhar espantado. Carlos nem o deixou falar.

- Está claro que queres, não te faz senão bem vir a Sintra... Amanhã lá estou à porta, com o break.

Mete sempre uma camisa numa maleta, que talvez passemos lá a noite... Às oito em ponto, hein?... E não digas nada lá dentro.

Carlos voltou para a sala, ficou a olhar a partida de dominó. Agora havia um largo silêncio. O marquês e Taveira moviam lentamente as pedras, sem uma palavra, com um ar de rancor surdo. Em cima do pano verde do bilhar as bolas brancas dormiam juntas, sob a luz que caía dos abat-jours de porcelana. Um som de piano, dolente e vago, passava por vezes. E Craft, com o braço descaído ao longo da poltrona, dormitava, beatificamente.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 188

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605