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Capítulo 7: Capítulo 7

Página 187
Já tinha falado de Deus, de Garibaldi, até do seu famoso perdigueiro Finório; e agora definia a Consciência.... Segundo ele, era o medo da polícia. Tinha o amigo Craft visto já alguém com remorsos? Não, a não ser no teatro da Rua dos Condes, em dramalhões...

- Acredite você uma coisa, Craft - terminou ele por dizer, cedendo ao Taveira que o puxava para a mesa - isto de consciência é uma questão de educação. Adquire-se como as boas maneiras; sofrer em silêncio por ter traído um amigo, aprende-se exactamente como se aprende a não meter os dedos no nariz. Questão de educação... No resto da gente é apenas medo da cadeia, ou da bengala... Ah! vocês querem levar outra sova ao dominó como a de sábado passado? Perfeitamente, sou todo vosso...

Carlos, que estivera passando de novo os olhos pelo artigo do Ega, aproximou-se também da mesa. E estavam sentados, remexiam as pedras - quando à porta da sala apareceu o conde de Steinbroken, de casaca e crachá, grã-cruz sobre o colete branco, louro como uma espiga, esticado e resplandecente. Tinha jantado no Paço, e vinha acabar no Ramalhete a sua soirée, em família...

Então o marquês que o não via desde o famoso ataque de intestinos, abandonou o dominó, correu a abraçá-lo ruidosamente – e sem o deixar sequer sentar, nem estender a mão aos outros, implorou-lhe logo uma das suas belas canções finlandesas, uma só, daquelas que lhe faziam tão bem à alma!...

- Só a Balada, Steinbroken... Eu também não me posso demorar, que tenho aqui a partida à espera. Só a Balada!... Vá, salta lá para dentro para o piano, Cruges...

O diplomata sorria, dizia-se cansado, tendo já feito música deliciosa no Paço com Sua Majestade. Mas nunca sabia resistir àquele modo folgazão do marquês - e lá foram para a sala do piano, de braço dado, seguidos pelo Cruges, que levara uma eternidade a desenroscar-se do canto do sofá. E daí a um momento, através dos reposteiros meio corridos, a bela voz de barítono do diplomata espalhava pelas salas, entre os suspiros do piano, a embaladora melancolia da Balada, com a sua letra traduzida em francês, que o marquês adorava, e em que se falava das névoas tristes do Norte, de lagos frios e de fadas loiras...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 187

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605