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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 192
O seu ideal seria ir á Alemanha, percorrer a pé, com uma mochila, aquela pátria sagrada dos seus deuses, de Beethoven, de Mozart, de Wagner...

- Não te apetecia mais ir à Itália? perguntou Carlos acendendo o charuto.

O maestro esboçou um gesto de desdém, teve uma das suas frases sibilinas:

- Tudo contradanças!...

Carlos então falou de um certo plano de ir à Itália, com o Ega, no inverno. Ir à Itália, para o Ega, era uma higiene intelectual: precisava calmar aquela imaginação tumultuosa de nervoso peninsular entre a plácida majestade dos mármores...

- O que ele precisava antes de tudo era chicote, rosnou o Cruges.

E voltou a falar do caso da véspera, do famoso artigo da Gazeta. Achava aquilo, como ele dissera, pura e simplesmente insensato, e de uma sabujice indecorosa. E o que o afligia é que o Ega, com aquele talento, aquela verve fumegante, não fizesse nada...

- Ninguém faz nada, disse Carlos espreguiçando-se. Tu, por exemplo, que fazes?

Cruges, depois de um silêncio, rosnou encolhendo os ombros:

- Se eu fizesse uma boa opera, quem é que ma representava?

- E se o Ega fizesse um belo livro, quem é que lho lia?

O maestro terminou por dizer:

- Isto é um país impossível... Parece-me que também vou tomar café.

Os cavalos tinham descansado, Cruges pagou a conta, partiram. Daí a pouco entravam na charneca que lhes pareceu infindável. De ambos os lados, a perder de vista, era um chão escuro e triste; e por cima um azul sem fim, que naquela solidão parecia triste também. O trote compassado dos cavalos batia monotonamente a estrada. Não havia um rumor: por vezes um pássaro cortava o ar, num voo brusco, fugindo do ermo agreste. Dentro do break um dos criados dormia; Cruges, pesado dos ovos com chouriço, olhava, vaga e melancolicamente, as ancas lustrosas dos cavalos.

Carlos, no entanto, pensava no motivo que o trazia a Sintra. E realmente não sabia bem porque vinha: mas havia duas semanas que ele não avistava certa figura que tinha um passo de deusa pisando a terra, e que não encontrava o negro profundo de dois olhos que se tinham fixado nos seus: agora supunha que ela estava em Sintra, corria a Sintra.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 192

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605