E nunca parecera tão fúnebre, tão reles, como resmungando estas coisas hipócritas, encolhido à sombra de Carlos.
- Fizeste muito bem, Eusébiozinho, disse Carlos por fim, batendo-lhe no ombro. Lisboa está um horror, e o amor é coisa doce.
O outro continuava a justificar-se. Então a espanhola magrita, que fumava, afastada da mesa e com a perna traçada, elevou a voz, perguntou ao Cruges se ele não lhe falava. O maestro afirmou-se um momento, e partiu de braços abertos para a sua amiga Lola. E foi, nesse canto da mesa, uma grulhada em espanhol, grandes apertos de mão, e hombre, que no se le há visto! e mira, que me he acordado de ti! e caramba, que reguapa estas... Depois a Lola, tomando um arzinho espremido, apresentou o outro mulherão, la señorita Concha...
Vendo isto, impressionado com tanta familiaridade - o sujeito obeso, que apenas levantara um instante a cabeça do prato, decidiu-se a examinar mais atentamente os amigos do Eusébio: cruzou o talher, limpou com o guardanapo a boca, a testa e o pescoço, encavalou laboriosamente no nariz uma grande luneta de vidros grossos, e erguendo a face larga, balofa e cor de cidra, examinou detidamente Cruges, e depois Carlos, com uma impudência tranquila.
Eusébiozinho apresentou o seu amigo Palma: e o seu amigo Palma, ouvindo o nome conhecido de Carlos da Maia, quis logo mostrar diante de um gentleman, que era um gentleman também. Arrojou para longe o guardanapo, arredou para fora a cadeira; e de pé, estendendo a Carlos os dedos moles e de unhas roídas, exclamou, com um gesto para os restos da sobremesa:
- Se v. Ex.ª é servido, é sem cerimónia... Que isto quando a gente vem a Sintra, é para abrir o apetite e fazer bem à barriga...
Carlos agradeceu, e ia retirar-se. Mas Cruges, que se animava e gracejava com a Lola, fez também do outro lado da mesa a sua apresentação:
- Carlos, quero que conheças aqui a lindíssima Lola, relações antigas, e a señorita Concha, que eu tive agora o prazer...