Os Maias - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 198 / 630

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E ainda ele mascava as últimas palavras, quando Concha, que digeria de perna estendida, se endireitou bruscamente como se fosse saltar, atirou um murro à borda da mesa, e com os olhos chamejantes, desafiou o Eusébio a que repetisse aquilo! Queria que ele repetisse! Queria que dissesse se tinha vergonha dela, e de dizer que a tinha trazido a Sintra!... E como o Eusébio, já enfiado, tentava gracejar, fazer-lhe uma festa – ela despropositou, atirou-lhe os piores nomes, dando sempre punhadas na mesa, com uma fúria que lhe torcia a boca, lhe punha duas manchas de sangue no carão trigueiro. A Lolita, vexada, puxava-lhe pelo braço: a outra deu-lhe um repelão; e, mais excitada com a estridência da própria voz, esvaziou-se de toda a bílis, chamou-lhe porco, acusou-o de forreta, usou-o como um trapo vil.

Palma aflito, debruçado sobre a mesa, exclamava num tom ansioso:

- Ó Concha, escuta lá!... Ouve lá!... Concha, eu te explico...

De repente, ela ergueu-se, a cadeira tombou para o lado: e o mulherão abalou pela sala fora, a grande cauda de cetim varreu desabridamente o soalho, ouviu-se dentro estalar uma porta. No chão ficara caído um pedaço da mantilha de renda.

O criado que entrava do outro lado com a cafeteira estacou, afiando o olho curioso, farejando o escândalo; depois, calado e secamente, foi servindo em roda o café.

Durante um momento houve um silêncio. Apenas porém o criado saiu - a Lolita e o Palma, agitados mas abafando a voz, atacaram o Eusébiozinho. Ele portara-se muito mal! Aquilo não fora de cavalheiro! Tinha trazido a rapariga a Sintra, devia-a respeitar, não a ter renegado assim, à bruta, diante de todos...

- Esto no se hace, dizia a Lolita, de pé, gesticulando, com os olhos brilhantes, voltada para Carlos, há sido una cosa muy fêa!...

E como o Cruges lamentava, sorrindo, ter sido a causa involuntária da catástrofe - ela baixou a voz, contou que a Concha era uma fúria, viera a Sintra com pouca vontade, e desde manhã estava de muy malo humor... Pero lo de Silbeira habia sido una gran pulhice...





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