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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 202

Mas o que o encantava era o ar. Abria os braços, respirava a tragos deliciosos:

- Que ar! Isto dá saúde, menino! Isto faz reviver!...

Para o gozar mais docemente, sentou-se adiante, num bocado de muro baixo, defronte de um alto terraço gradeado, onde velhas árvores assombreiam bancos de jardim, e estendem sobre a estrada a frescura das suas ramagens, cheias do piar das aves. E como

Carlos lhe mostrava o relógio, as horas que fugiam para ir ver o palácio, a Pena, as outras belezas de Sintra - o maestro declarou que preferia estar ali, ouvindo correr a água, a ver monumentos caturras...

- Sintra não são pedras velhas, nem coisas góticas... Sintra é isto, uma pouca de água, um bocado de musgo... Isto é um paraíso!...

E, naquela satisfação que o tornava loquaz, acrescentou, repetindo a sua chalaça:

- E v. Ex.ª deve sabê-lo, Sr. Maia, porque tem experiência de espanholas!...

- Poupa-me, respeita a natureza, murmurou Carlos, que riscava pensativamente o chão com a bengala.

Ficaram calados. Cruges agora admirava o jardim, por baixo do muro em que estavam sentados. Era um espesso ninho de verdura, arbustos, flores e árvores, sufocando-se numa prodigalidade de bosque silvestre, deixando apenas espaço para um tanquezinho redondo, onde uma pouca de água, imóvel e gelada, com dois ou três nenúfares, se esverdinhava sob a sombra daquela ramaria profusa. Aqui e além, entre a bela desordem da folhagem, distinguiam-se arranjos de gosto burguês, uma volta de ruazita estreita como uma fita, faiscando ao sol, ou a banal palidez de um gesso. Noutros recantos, aquele jardim de gente rica, exposto às vistas, tinha retoques pretensiosos de estufa rara, aloés e cactos, braços aguardasolados de auraucarias erguendo-se dentre as agulhas negras dos pinheiros bravos, laminas de palmeira, com o seu ar triste de planta exilada, roçando a rama leve e perfumada das olaias floridas de cor-de-rosa. A espaços, com uma graça discreta, branquejava um grande pé de margaridas; ou em torno de uma rosa, solitária na sua haste, palpitavam borboletas aos pares.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 202

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605