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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 203

- Que pena que isto não pertença a um artista! murmurou o maestro. Só um artista saberia amar estas flores, estas árvores, estes rumores...

Carlos sorriu. Os artistas, dizia ele, só amam na natureza os efeitos de linha e cor; para se interessar pelo bem-estar de uma tulipa, para cuidar de que um craveiro não sofra sede, para sentir magoa de que a geada tenha queimado os primeiros rebentões das acácias - para isso só o burguês, o burguês que todas as manhãs desce ao seu quintal com um chapéu velho e um regador, e vê nas árvores e nas plantas uma outra família muda, por que ele é também responsável...

Cruges, que escutara distraidamente, exclamou:

- Diabo! É necessário que não me esqueçam as queijadas!

Um som de rodas interrompeu-os, uma caleche descoberta desembocou a trote do lado de Sitiais. Carlos ergueu-se logo, certo de que era ela, e que ele ia ver os seus belos olhos brilhar e fugir como duas estrelas. A caleche passou, levando um ancião de barbas de patriarca, e uma velha inglesa com o regaço cheio de flores e o véu azul flutuando ao ar. E logo atrás, quase no pó que as rodas tinham erguido, apareceu, caminhando pensativamente, de mãos atrás das costas, um homem alto, todo de preto, com um grande chapéu Panamá sobre os olhos. Foi Cruges que reconheceu os longos bigodes românticos, que gritou:

- Olha o Alencar! Oh! grande Alencar!...

Durante um momento, o poeta ficou assombrado, com os braços abertos, no meio da estrada. Depois, com a mesma efusão ruidosa, apertou Carlos contra o coração, beijou o Cruges na face - porque conhecia Cruges desde pequeno, Cruges era para ele como um filho. Caramba! Eis aí uma surpresa que ele não trocava pelo título de duque! Ora o alegrão de os ver ali! Como diabo tinham eles vindo ali parar?

E não esperou a resposta, contou ele logo a sua história. Tivera um dos seus ataques de garganta, com uma ponta de febre, e o Melo, o bom Melo, recomendara-lhe mudança de ares. Ora ele, bons ares, só compreendia os de Sintra: porque ali não eram só os pulmões que lhe respiravam bem, era também o coração, rapazes!... De sorte que viera na véspera, no ónibus.

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 203

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605