Os Maias - Cap. 8: Capítulo 8 Pág. 204 / 630

- E onde estás tu, Alencar? perguntou logo Carlos.

- Pois onde queres tu que eu esteja, filho? Lá estou com a minha velha Lawrence. Coitada! está bem velha! mas para mim é sempre uma amiga, é quase uma irmã!... E vocês, que diabo? Para onde vão vocês com essas flores nas lapelas?

- A Sitiais... Vou mostrar Sitiais ao maestro.

Então também ele voltava a Sitiais! Não tinha nada que fazer senão sorver bom ar, e cismar... Toda a manhã andara ali, vagamente, pendurando sonhos dos ramos das árvores. Mas agora já os não largava; era mesmo um dever ir ele próprio fazer ao maestro as honras de Sitiais...

- Que aquilo é sítio muito meu, filhos! Não há ali árvore que me não conheça... Eu não vos quero começar já a impingir versos; mas enfim, vocês lembram-se de uma coisa que eu fiz a Sitiais, e de que por aí se gostou...

Quantos luares eu lá vi!

Que doces manhãs d'abril!

E os ais que soltei ali

Não foram sete, mas mil!

Pois então já vocês vêem, rapazes, que tenho razão para conhecer Sitiais...

O poeta lançou ao ar um vago suspiro, e durante um instante caminharam todos três calados.

- Diz-me uma coisa, Alencar, perguntou Carlos baixo, parando, e tocando no braço do poeta. O Dâmaso está na Lawrence?

Não, que ele o tivesse visto. Verdade seja que na véspera, apenas chegara, fora-se deitar, fatigado; e nessa manhã almoçara só com dois rapazes ingleses. O único animal que avistara fora um lindo cãozinho de luxo, ladrando no corredor...

- E vocês onde estão?

- No Nunes.

Então o poeta parando de novo, contemplando Carlos com simpatia:

- Que bem que fizeste em arrastar cá o maestro, filho!... Quantas vezes eu tenho dito àquele diabo, que se metesse no ónibus, viesse passar dois dias a Sintra. Mas ninguém o tira de martelar o piano. E olha tu que mesmo para a música, para compor, para entender um Mozart, um Chopin, é necessário ter visto isto, escutado este rumor, esta melodia da ramagem...





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