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Capítulo 8: Capítulo 8

Página 206

E apressou o passo através do terreiro, em quanto o maestro, cada vez mais animado, lhe gritava a chalaça do dia:

- E v. Ex.ª deve sabê-lo, Sr. Maia, porque tem experiência de espanholas!...

Alencar, que se demorara atrás a acender o cigarro, estendeu o ouvido, curioso, quis saber o que era isso de espanholas? O maestro contou-lhe o encontro no Nunes e os furores da Concha.

Iam ambos caminhando por uma das alamedas laterais, verde e fresca, de uma paz religiosa, como um claustro feito de folhagem. O terreiro estava deserto; a erva que o cobria, crescia ao abandono, toda estrelada de botões de ouro brilhando ao sol, e de malmequersinhos brancos. Nenhuma folha se movia: através da ramaria ligeira o sol atirava molhos de raios de ouro. O azul parecia recuado a uma distância infinita, repassado de silêncio luminoso; e só se ouvia, às vezes, monótona e dormente, a voz de um cuco nos castanheiros.

Toda aquela vivenda, com a sua grade enferrujada sobre a estrada, os seus florões de pedra roídos da chuva, o pesado brasão rococó, as janelas cheias de teias de aranha, as telhas todas quebradas, parecia estar-se deixando morrer voluntariamente naquela verde solidão, - amuada com a vida, desde que dali tinham desaparecido as ultimas graças do tricorne e do espadim, e os derradeiros vestidos de anquinhas tinham roçado essas relvas... Agora Cruges ia descrevendo ao Alencar a figura do Eusébiozinho, com a chávena de café na mão, a ir pedir perdão à Concha; e a cada momento o poeta, com o seu grande chapéu panamá, se agachava a colher florinhas silvestres.

Quando passaram o Arco, encontraram Carlos sentado num dos bancos de pedra, fumando pensativamente a sua cigarete. O palacete deitava sobre aquele bocado de terraço a sombra dos seus muros tristes; do vale subia uma frescura e um grande ar; e algures, em baixo, sentia-se o prantear de um repuxo. Então o poeta, sentando-se ao lado do seu amigo, falou com nojo do Eusébiozinho. - Aí está uma torpeza que ele nunca cometera, trazer meretrizes a Sintra! Nem a Sintra, nem a parte nenhuma... Mas muito menos a Sintra! Sempre tivera, todo o mundo devia ter, a religião daquelas árvores e o amor daquelas sombras...

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Capa do livro Os Maias
Páginas: 630
Página atual: 206

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 26
Capítulo 3 45
Capítulo 4 75
Capítulo 5 98
Capítulo 6 126
Capítulo 7 162
Capítulo 8 189
Capítulo 9 218
Capítulo 10 260
Capítulo 11 301
Capítulo 12 332
Capítulo 13 365
Capítulo 14 389
Capítulo 15 439
Capítulo 16 511
Capítulo 17 550
Capítulo 18 605